A Enxada de Ouro
José Fortuna
Um roceiro mandou seu filhinho com apenas seis anos de idade
Estudar e formar-se doutor nos colégios das grandes cidades
Vinte anos depois regressava e ao ver o que o pai refletia
Confessou que sentia vergonha, mas o velho com diplomacia
Apanhou uma enxada que estava num canto encostada e pro filho dizia:
“teu diploma e o anel de doutor quem te deu foi o fio desta enxada
Se pra mim hoje aqui falta tudo, foi pra não te deixar faltar nada
Esta enxada do seio da terra trouxe a seiva pro teu alimento
Os teus livros, teu carro e teu luxo, foram ganhos com este instrumento
Neste mundo de mil invenções foi a enxada a primeira de todos os inventos.
Foi a enxada no ermo das matas, a primeira a trazer claridade
E a plantar nos confins dos sertões as raízes de novas cidades
Desbravou pantanais e desertos pra cobrir com tapete de flores
Pôs caminhos onde havia serrados e o sertão fez ganhar novas cores
Estes calos que pôs em meus dedos são como os mais belos anéis de doutores”.
Ao olhar para o rosto do filho viu que estava com os olhos molhados
E abraçando o velhinho chorando, disse apenas.: “papai, obrigado”
E levou a enxada consigo pra guardar como um nobre tesouro
Pra poder em seus dias futuros este exemplo ser mais duradouro
Sobre a mesa de seu escritório mandou colocar uma enxada de ouro.
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