O Último Caboclo
Lourenço e Lourival
Era criança mais me lembro ainda
Da voz suave do meu pai chamar
Vamos meus filhos, é chegada a hora
O chão sagrado vamos semear
Todos felizes carpinando o eito
Meu pai puxando um grande mutirão
E eu caçula levava o Corote
Servindo água para os meus irmãos
Fim do trabalho, a semente plantada
Cumprindo a nossa sagrada missão
Então meu pai com fé e esperança
Na capela pede chuva mansa
Para vingar o centeio do pão
Porém, a reza não foi suficiente
A chuva santa demorou chegar
Foi quando a seca matou nossa roça
Primeira vez que vi meu pai chorar
Fiquei olhando no seu rosto triste
Cobri de lágrimas a derramar
Minha inocência não compreendia
Se Deus é bom, porque nos castigar
No outro dia levantei bem cedo
E no que vi não pude acreditar
Maior ainda foi a minha revolta
Ao ver que em cima das plantinhas mortas
Choveu a noite inteira sem parar
Entrei, chorando: Papai, vamos embora
Não quero mais viver neste lugar
Ele me disse: Vai com Deus, meu filho
Mais o teu pai não vai te acompanhar
Eu sou caboclo de alma sertaneja
Tenho raiz fincada neste chão
Até meu último dia de vida
Quero viver aqui no meu rincão
Mesmo que a terra às vezes negue o fruto
Minhas origens não negam, não
Mesmo que alguém me considere louco
Eu quero ser o último caboclo
A abandonar meu querido sertão
Mesmo que alguém me considere louco
Eu quero ser o último caboclo
A abandonar meu querido sertão
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