Changueiro
Pedro Ortaça
Me ajustei de agarrador numa comparsa de esquila
Se foi a plata na bóia não me ficou nenhum pila
Chegou a safra do trigo me justei com outro patrão
O patrão ficou mais rico meus piás com menos pão
Repontei boiadas gordas para embarcar pelo trem
No prato da filharada carne não tinha e não tem
Tudo que sobra pra o rico comprado pelo dinheiro
Passa de largo e não chega na guaiaca do chanqueiro
O changueiro não é nada embora possa querer
Faz tijolo, e não tem casa, se planta não vê crescer
Trabalha quando dá vasa, vive sempre de arrepio
Pega o tição pela brasa e o ferro branco pelo fio
Do grande aparte da vida sempre lhe toca o pequeno
Das rosas sempre os espinhos, das cascavéis o veneno.
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