Quem tinha era não era
Quem era quando era ser
Porque o ser é quem dera
No mundo estar para ter

No raso que tem o fundo
Do mundo quando não tem
Lá onde a cobra não pia
E a morte é vida de alguém
Meu olho mira o espanto
De Deus estar numa flor
Tomando banho de cuia
Se rindo do que criou

O mundo é plano virado
No elo do que já foi
Quem dá bom dia a cavalo
Dá boa noite pro boi
Olho por olho no dente
Que gira na carrapeta
A fome sem dentadura
Roendo o pão do capeta

Ê, mundaréu
Cabelo não cresce em ovo
Nem a lua cai do céu

Brasília não é São Paulo
Ziraldo é Caratinga
Quem tira pinto azulado
Coloca o ovo na pinga

Eu entro dentro lá fora
Eu dentro de fora saio
Quando almoço não janto
Quando balanço não caio

A noite sendo sem lua
O dia cego no breu
O passo do meu destino
Fora do risco morreu
Onde começa e termina
O quando se pode agora
Ser da largura do mundo
E ninguém ficar de fora

Ê, mundaréu
Cabelo não cresce em ovo
Nem a lua cai do céu

O grande olho do rei
Estando em todo lugar
No pensamento pensando
Se pode ver meu pensar
Pensando que o fim do mundo
È longe nos cafundéu
Onde começa e termina
Os quintos do mundaréu

Composição: Bilora / Paulim Amorim