Sou filha de Ogum feroz
Sou dente, carne, imensa voz
Sou de sair de madrugada
Sou de alumínio
Mas sou jangada

Sou bem tratada pelas águas, pelos rios que cruzo
E os maremotos, as enchentes, a Yemanjá me curvo
Sou a corrente intransponível, sou possível ilha
Sou mera coincidência entre os sete mares
Sou a memória desse barco que partiu

Sou Turmalina, sou de prece
Sou ametista, a flor do Agreste
Sou pequenina, sou divina
Sou o martírio, sou a mulher

Que não se esquece
Que não se despe
Que o Sol aquece
Que tudo tece
Que traz a peste
Que faz a prece
Que guarda a veste
Que se enobrece

Que resplandece
Céu que escurece
Lua que cresce
Deusa Que nasce

Sou labareda que incendeia o sangue quente pulsa
Sou a novena interrompida, pelos arrepios
Sou a cartilha indecorosa, sou intensamente
Sou a medida entre a cruz e a espada
Sou a menina nesse corpo que escolhi

Que não se esquece
Que não se despe
Que o Sol aquece
Que tudo tece
Que traz a peste
Que faz a prece
Que guarda a veste
Que se enobrece

Que resplandece
Céu que escurece
Lua que cresce
Deusa Que nasce

Composição: Daniel Lotoy / Renata Versolato