395px

Cara a Cara

Caetano Veloso

Mano a Mano

Rechiflao en mi tristeza, hoy te evoco y veo que has sido
En mi pobre vida paria sólo una buena mujer
Tu presencia de bacana puso calor en mi nido
Fuiste buena, consecuente, y yo sé que me has querido
Como no quisiste a nadie, como no podrás querer.

Se dio el juego de remanye cuando vos, pobre
Percanta,
Gambeteabas la pobreza en la casa de pensión:
Hoy sos toda una bacana, la vida te ríe y canta,
Los morlacos del otario los tirás a la marchanta
Como juega el gato maula con el misero ratón.

Hoy tenés el mate lleno de infelices ilusiones
Te engrupieron los otarios, las amigas, el gavión
La milonga entre magnates con sus locas tentaciones
Donde triunfan y claudican milongueras pretensiones
Se te ha entrado muy adentro en el pobre corazón.

Nada debo agradecerte, mano a mano hemos quedado,
No me importa lo que has hecho, lo que hacés ni lo que
Harás;
Los favores recibidos creo habértelos pagado
Y si alguna deuda chica sin querer se me ha olvidado
En la cuenta del otario que tenés se la cargás.

Mientras tanto, que tus triunfos, pobres triunfos
Pasajeros,
Sean una larga fila de riquezas y placer;
Que el bacán que te acamala tenga pesos duraderos
Que te abrás en las paradas con cafishios milongueros
Y que digan los muchachos: "Es una buena mujer".

Y mañana cuando seas descolado mueble viejo
Y no tengas esperanzas en el pobre corazón
Si precisás una ayuda, si te hace falta un consejo
Acordate de este amigo que ha de jugarse el pellejo
P'ayudarte en lo que pueda cuando llegue la ocasión.

Cara a Cara

Rechiflando na minha tristeza, hoje te evoco e vejo que você foi
Na minha pobre vida, só uma boa mulher
Sua presença de gente boa trouxe calor pro meu ninho
Você foi boa, coerente, e eu sei que você me amou
Como não amou ninguém, como não vai conseguir amar.

Rolou o jogo de remanejo quando você, coitada
Menina,
Dava um jeito na pobreza na casa de pensão:
Hoje você é toda uma gente boa, a vida te sorri e canta,
Os grana do otário você joga pra galera
Como o gato malandro brinca com o miserável rato.

Hoje você tem o mate cheio de ilusões infelizes
Te enganaram os otários, as amigas, o gavião
A milonga entre magnatas com suas loucas tentações
Onde triunfam e desistem milongueiras pretensões
Entrou bem fundo no seu pobre coração.

Nada devo te agradecer, cara a cara ficamos,
Não me importa o que você fez, o que faz nem o que
Fará;
Os favores recebidos acho que já te paguei
E se alguma dívida pequena sem querer eu esqueci
Na conta do otário que você tem, você joga pra ele.

Enquanto isso, que seus triunfos, pobres triunfos
Passageiros,
Sejam uma longa fila de riquezas e prazer;
Que o cara que te acerta tenha grana duradoura
Que você se abra nas paradas com cafetões milongueiros
E que os caras digam: "É uma boa mulher".

E amanhã, quando você for um móvel velho descolado
E não tiver esperanças no pobre coração
Se precisar de uma ajuda, se precisar de um conselho
Lembre-se desse amigo que vai se arriscar
Pra te ajudar no que puder quando chegar a ocasião.

Composição: Carlos Gardel / Esteban Celedonio Flores