Deixa lá que chegue a noite
Que a noite traga o alívio
De deixar de fingir
E de viver em sacrifício
Num dilúvio dúbio
Entre o que quero e acredito
Eu espero sempre um amanhã bonito

O que eu não esqueço é meu
Como átomos
Fantasmas gastos e eu ato-nos
Peso retrato dos corpos nus
Deitados onde juntos fomos um

Beijei-te a pálpebra e neguei a álgebra
Que aqui um mais um é um
Amor еm tempo de cólera
O tеu corpo sabe a pólvora
E eu já não sei se é fome ou se é jejum

Não sei se te esqueço
Ou se quando te esqueço
Morrem também partes de mim
Conheço o teu avesso
Debruço-me e escrevo
Vi-te nas entranhas jardim

Nada sabe ao que sabia
E é sádica a ironia
Mas isso acho que já sabias
Vivemos a mesma máxima
Quando tens o que queres
E se ainda queres tudo o que querias

Eu tinha paz quando tinha nada
Eu tenho caos mas de bolsos cheios
Tínhamos uma estrada a dois passeios
Chegamos ao fim mas juro vimos meios

Eu juro que chorei tanto
Que flutuei no banco
E fui do quarto até à sala
Já não estamos lado a lado
Isto é um nada a nado
Onde perde quem guarda
Mas morre quem fala

Não é um novo testamento
É um novo teste a medo
Que a vida sem ti é uma novidade
E eu que sou de tradições
Queimei as recordações
Só pra fingir que estou mais à vontade

Aplaudiram-me no coliseu
E eu sem colo e sem ser eu
Só levantei a mão
Mas não dormia há cinco dias
E depois de noites frias
Prémios só sabem a solidão

Amaste-me antes do palco e antes dos agentes
Antes do salto e antes de eu ser gente
Amei-te tanto quanto o que podia
Não é carolina, pra ti é Maria

Não era para a vida toda e nós rimos juntos
Não fomos só a vida, juntos fomos tudo
Não é para a vida toda e nós rimos juntos
Não fomos só a vida, juntos fomos tudo

Composição: Carolina Deslandes / Diogo Clemente