João canário canta triste
E seu canto sai bonito
Canta amor que não existe
Como tivesse existido
Canta, e a tristeza resiste:
Canto mais doce e doído

João canário não é daqui
Não cresceu entre estas grades
Nasceu lá longe, na serra
E foi trazido pras cidades
É joão, não joão-de-barro
Não aceitou ser oleiro
Por tempos quis ser chupim
E viver bem do alheio
Quando tentou ser carancho
Foi a deixa pro desande
Manchar o bico de sangue
É coisa pra bicho grande

João canário canta triste
E seu canto sai bonito
Canta a mata, mais que diste
Uma vida com sentido
Tristeza malvada, persiste
No canto doce e doído

'gora quando chega a noite
Lá da última gaiola
João canário canta o campo
'té pomba de praça chora
Chora um pardal de poste
Nunca ter tão longe ido
Ao ouvir brotar das grades
Canto tão belo e doído
João canário não é daqui
Não cresceu entre estas grades
Nasceu lá longe, na serra
Foi trazido pras cidades

João canário canta triste
E seu canto sai bonito
Canta amor que não existe
Como tivesse existido
Canta, e duvido que ouviste
Canto mais belo e doído

Composição: Éder Goulart / Rodolfo Taruhn