Existem canções
Mais tiranas que muitas traições
Mais ferventes que tantas paixões
Mais sinistras que a morte.

E há outras canções
Que são só simples opiniões,
Melodias lembrando ilusões,
Coisas meigas e azuis.

E há harmonias
Que se aprendem nas coisas mais frias,
Muito cheias de coisas vazias
Para a gente engolir.
Existem canções,
Com muita comichão nos sermões
Tão difíceis de ouvir.

Cantigas, leva-as o tempo.
Cantigas, em contratempo....

Existem canções
Que são feitas pelas mesmas razões
Pelas quais são feitas as noções
Do que é bom para nós.

E há outras canções
De cúpidos e bons corações,
Os refrãos são apenas refrões
Das mais lindas canções.

Rezam a sina
No traçado da palma da mão
Que faz sim para acenar um não,
As mãos são como são.

...mas as canções,
As canções são piores que prisões
Que nos cantam a rir.

Cantigas, leva-as o tempo
Cantigas, em contratempo.....

Resistem canções
Feitas para abafar aflições,
Por causa das armas e barões
Do que em nós é camões.


Nos próprios pulmões
Deixou de haver ar, só cifrões,
Arritmias das próprias sanções
Desculpadas em nós.

E há harmonias
Que se aprendem nas coisas mais frias,
Muito cheias de coisas vazias
Para a gente engolir.

Existem canções
Com muita comichão nos sermões
Tão difíceis de ouvir.

Cantigas, leva-as o tempo.
Cantigas, em contratempo...

Composição: