Mostraram-me um dia na roça dançando
Mestiça formosa de olhar azougado!
Co'um lenço de cores nos seios cruzado
Nos lobos da orelha pingentes de prata!

Que viva a mulata
Por ela o feitor!
Diziam que andava
Perdido de amor!

De em torno dez léguas da vasta fazenda
Ao vê-la corriam gentis amadores!
E aos ditos galantes de finos amores
Abrindo seus lábios de viva escarlata!

Sorria a mulata
Por quem o feitor!
Nutria quimeras
E sonhos de amor!

Um pobre mascate, que em noites de Lua
Cantava modinhas, lundus magoados!
Amando a faceira dos olhos rasgados
Ousou confessar-lhe com voz timorata!

Amaste-o, mulata
E o triste feitor!
Chorava na sombra
Perdido de amor!

Um dia encontraram na escura senzala
O catre da bela mucama vazio!
Embalde recortam pirogas o rio
Embalde procuram no escuro da mata!

Fugira a mulata
Por quem o feitor!
Se foi definhando
Perdido de amor!

Composição: Calderón / Gonçalves Crespo / Nicolino Milano / Olga Praguer Coelho