Meu verso acordou escrito
No largo de uma invernada
No couro grosso do gado
No rastro da cavalhada
Na fumaça em letras leves
Inspirando a madrugada

Antes do primeiro Sol
Que bem cedo se anuncia
Do bico aberto de um galo
Estendido em cantoria
Meu verso acordou escrito
Com a luz que clareava o dia

Antes da sanga ir embora
Na correnteza sem ver
No vento assobiar no arame
Cantigas de alvorecer
Meu verso acordou escrito
Com palavras por dizer

Antes dos cascos pisarem
A terra pelas mangueiras
Das esporas arrastarem
Suas coplas cantadeiras
Meu verso acordou escrito
Cheio de riscos e poeira

Antes da lenha de angico
Soltar fumaças ao léu
Das teias brancas de aranha
Prenderem gotas de céu
Meu verso acordou escrito
Sobre a manhã do papel

Antes do chiar da cambona
Do berro de algum terneiro
Da escuridão dissipar
O que surgiu por primeiro
Meu verso acordou escrito
Com rimas de dia inteiro

Antes da última estrela
Vigiar o rancho de perto
Do lápis quebrar a ponta
Buscando um rumo incerto
Meu verso acordou escrito
Num livro do campo aberto

Composição: Gujo Teixeira