Te doy una canción
Cómo gasto papeles recordándote,
cómo me haces hablar en el silencio,
cómo no te me quitas de las ganas
aunque nadie me vea nunca contigo.
Y cómo pasa el tiempo
que de pronto son años
sin pasar tú por mí
detenida
Te doy una canción
si abro una puerta
y de las sombras sales tú.
Te doy una canción
de madrugada
cuando más quiero tu luz.
Te doy una canción
cuando apareces
el misterio del amor
y si no lo apareces
no me importa:
yo te doy una canción.
Si miro un poco afuera me detengo,
la ciudad se derrumba y yo cantando,
la gente que me odia y que me quiere
no me va a perdonar que me distraiga.
Creen que lo digo todo,
que me juego la vida
porque no te conocen
ni te sienten.
Te doy una canción
y hago un discurso
sobre mi derecho a hablar.
Te doy una canción
con mis dos manos,
con las mismas de matar.
Te doy una canción
y digo: Patria.
Y sigo hablando para ti.
Te doy una canción
como un disparo, como un libro,
una palabra, una guerrilla...
como doy el amor.
Te Dou uma Canção
Como gasto papel te lembrando,
como você me faz falar no silêncio,
como não consigo tirar você da cabeça
depois que ninguém me vê nunca com você.
E como o tempo passa
que de repente são anos
sem você passar por mim
parada.
Te dou uma canção
se eu abro uma porta
e das sombras você sai.
Te dou uma canção
de madrugada
quando mais quero sua luz.
Te dou uma canção
quando você aparece
o mistério do amor
e se você não aparece
não me importa:
eu te dou uma canção.
Se eu olho um pouco pra fora eu paro,
a cidade desmorona e eu cantando,
a galera que me odeia e que me ama
não vai me perdoar por me distrair.
Acham que eu digo tudo,
que arrisco a vida
porque não te conhecem
e nem te sentem.
Te dou uma canção
e faço um discurso
sobre meu direito de falar.
Te dou uma canção
com minhas duas mãos,
com as mesmas que matam.
Te dou uma canção
e digo: Pátria.
E sigo falando pra você.
Te dou uma canção
como um tiro, como um livro,
uma palavra, uma guerrilha...
como dou amor.
Composição: Silvio Rodríguez