Morada humilde encravada na campanha
Cercada ao fundo com cacimba e um pomar
Rudes paredes levantadas com capricho
Lugar pequeno que já foi um grande lar

Gente tão simples quanto a vida que se vive
Nessas lonjuras onde nem o tempo passa
Mas que envelhece mais depressa no trabalho

E vê, por vezes, a esperança tão escassa
Filhos criados que se foram para o povo
Tentar a sorte feito novos retirantes
E que deixaram para trás seus velhos pais
A ruminar dias felizes já distantes

E como dói ver a saudade retratada
Algum brinquedo que ficou sem serventia
Ou no silêncio desses quartos tão vazios
Onde também a nossa alma se esvazia

A vida segue, é sempre assim, e o tempo cura
Essas feridas que torturam sem matar
E é escondido que se chora a solidão
De quem cresceu acostumado a não chorar

A velha sina de sofrer cala a revolta
E a ilusão de um melhor tempo se desfaz
Pois quem partiu a prometer que um dia volta
Sabe que disse um adeus pra nunca mais

Composição: Martim César Gonçalves / Paulo Timm