A solidão é uma cidade abandonada
É uma carroça numa estrada que vai dar na escuridão
É a feiura da mulher toda arrumada
Passeando na calçada sem ninguém dar atenção

A solidão é como um pássaro ferido
Que voou, mas está perdido, sem saber a direção
É como mão sem outra mão para bater palma
Como um Deus que perde a calma se ninguém pedir perdão

A solidão é como um nome que se esquece
Como um homem que envelhece, sem viver o que sonhou
É como um trânsito em plena madrugada
É o poeta na calçada que ninguém nunca escutou

A solidão é uma atriz, sem a plateia
É abelha sem colmeia, é barco à vela no sertão
É a promessa do político sem ética
É a conta aritmética em que o zero é a solução

A solidão é uma bola sem chuteira
É a vizinha fofoqueira, sem vizinhos no portão
A solidão é o rebolado da mulata
Quando a festa já tá chata e ninguém quer mais sambar, não

A solidão é quando o tempo vai embora
Quando a gente perde a hora e o compasso da canção
A solidão é quando o filme fica bobo
Quando a gente perde jogo, porque alguém fez gol de mão

Composição: Oswaldo Montenegro