Talvez meu canto se perca
Sem encontrar seu destino
Mas meu viver peregrino
Não vai se perder jamais
Caminha melhor quem traz
Nas próprias mãos o sustento
E tem no seu firmamento
Tão só uma estrela a guiar
Quem sabe aonde quer chegar
Não muda conforme o vento

Desde a vertente que ando nos rastros da mesma trilha
E trago a herança andarilha de tempos já imemoriais
No cem de mil ancestrais templei meu jeito ao nascer
E assumo esse proceder, com a minha identidade
Quem canta com liberdade, jamais escravo há de ser

Deixei meu sangue na pampa em guerras quase esquecidas
E já morri muitas vidas para renascer sempre novo
Forjei a estampa de um povo que tem coragem de sobra
Que crê na divina obra, mas não se atem a imagens
A minha altiva linhagem morre de pé e não se dobra

Revivo tempo e caminho, nesse andejar quase eterno
Trago pulsando no cerno centos de avós combatentes
Sou memória de uma gente que sabe do meu apreço
E quem assim ofereço o meu viver de cantor
Há coisas que tem valor, e outras que só tem preço

Sou parte viva da história que avança junto comigo
Assumo sempre o que digo, as faço mais do que falo
Entre patrões não me calo, e entre peões sou mais um
Respeito o saber comum de quem aprendeu sozinho
Quem segue vários caminhos, não segue caminho algum

Composição: Martim César Gonçalves / Paulo Timm