Outra vez a primavera, carrapateou o rebanho
E o compromisso me chama pra mais um dia de banho
Venho por riba do mouro e embaixo da mormaceira
Tocando o gado de cria na direção da mangueira

Vou aproveitar a função par dosar a terneirada
Leva um lote de ponta ao passo da encruzilhada
Se o gado não ganhar peso, já basta pra um contragosto
O patrão vai perder plata e eu, talvez, perca meu posto

Dê-lhe porta, João Edar, grita um índio lá da ponta
O resto fica por conta da peonada ovelheira
A rês se lança pra baixo, jorrando água pro céu
Em cada estouro lindaço, que por demais me fascina
E sai nadando de pronto, que já vem outra de cima

Ficaram couros goteando, sentando a polvadeira
Um vento morno na escolta, levando o que não chovera
O gado pampa de volta, com o cansaço na estampa
E a noite estendendo a armada no lombo verde da pampa

Meus olhos também se banham, mirando o passo do gado
Comando a tropa na estrada, mas sou por outro mandado
E o mouro firma o compasso, como se há tempos soubesse
Que o homem trata por bueno somente que lhe obedece.

Composição: Eduardo Muñoz / Rui Carlos Ávila