Quem me dera o velho gosto do cozido
Como dantes se fazia
Quando a gente enchia o nosso próprio
Ai que bem que bem que me sabia, como dantes se fazia

Quem me dera ainda aquele pão caseiro
Que bom cheiro que ele tinha
Quando a gente então passava pelo padeiro
De manhã, de manhãzinha

Ai que gosto que a comida tinha outrora
Ai que gosto que nos dava então come-la
Porque agora em vez de gosto tem um preço
Que por subir de hora a hora já nem da vontade vê-la

Quem me dera que a batata ainda tivesse
Sendo nova o gosto antigo
E ao casar com o bacalhau então pudesse
A gente cá chamar-lhe um figo, ao gosto antigo

Quem me dera ter alfaces bem verdinhas
Mas são quase clandestinas
Pois agora nestas hortas alfacinhas
Só lá cheira a pesticidas

Ai que gosto que a comida tinha outrora
Ai que gosto que nos dava então come-la
Porque agora em vez de gosto tem um preço
Que por subir de hora a hora já nem da vontade vê-la

Quem me dera que soubesse o carapau
Como dantes me sabia
E pensar que agora sei já não ser mau
Não saber a porcaria, como dantes não sabia

Quem me dera fosse puro o meu azeite
Como era antigamente
Quando a vaca já nem gosto põe no leite
Com franqueza, francamente

Ai que gosto que a comida tinha outrora
Ai que gosto que nos dava então come-la
Porque agora em vez de gosto tem um preço
Que por subir de hora a hora já nem da vontade vê-la

Composição: António Avelar Pinho / Nuno Rodrigues