Eu vi com meus próprios olhos
Foi num circo de rodeio
Na chegada dos peão
Que vieram pro torneio

Sortaram tanto foguete
Que fizeram um bombardeio
Na hora da montaria
Que o negócio ficou feio

Sortaram um burro famoso
Que nem sei da onde veio
Era só sentá no lombo
Cada pulo era um tombo
Ninguém esquentou o arreio

Surgiu um moço grã-fino
Do meio da murtidão
Pelo traje eu vi que era
Um home de posição

Cabelo bem penteado
E roupa de exportação
As unha toda esmaltada
E anel de ouro na mão

Pra montá naquele burro
Foi pedindo permissão
Pode sê que eu também caio
Mas pretendo dar trabaio
Pra fama desse burrão

Os peão que beijou a terra
Falaram com precisão
Os grã-fino da cidade
Quando qué bancá o peão

Não para nem amarrado
No lombo de um pagão
Se esse grã-fino montá
Pode prepará o caixão

O burro tirou do lombo
Barbado da profissão
Não foi um e nem foi dois
Vamo ver o pó de arroz
Bater a cara no chão

O grã-fino entrou na arena
Carçou a espora de prata
Jogou o paletó na cerca
E apertou bem a arriata

Sentou no lombo do burro
E bambeou o nó da gravata
Cortou o burro de espora
E foi batendo de chibata

O burrão caiu de costa
Levantou as quatro pata
O moço sartô de lado
E o burro ficou deitado
Entregue para as barata

Ganhou aplauso do povo
Ganhou beijo das menina
O grã-fino contou a vida
Bebendo numa cantina

Eu já fui peão de fama
Lá no estado de Minas
O dinheiro do papai
Que mudou a minha sina

Eu tenho na minha casa
Diploma da medicina
Tô morando na cidade
Mas sinto grande saudade
Que até hoje me domina

Composição: Moacyr dos Santos / Sulino