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Aciona as peças

A286

Letra

    Me vi num campo jogando com a camisa da seleção
    Acordei sangrando com os gambé gritando
    Cadê a arma ladrão?
    Vixi. Cê é louco jão é quente não basta a honestidade
    Onde condenam a caráter da sua cor sua classe
    Me sinto em fase terminal
    Com os meus próximo a extinção
    Tipo espécie animal vítima da humanação
    Entre o ser dotado de poder dando tiro
    E o nada tretando com as ratazanas por lixo
    Barraco, lodo, mofo, esgoto é o que sobrou pra nós
    Pra tentar fazer vida desassistido sem voz
    No farol mendigando um real
    Porque não quis vingar a desvalorização do trampo braçal
    A cidadania, a civilização é injusta
    Não te quer conhecedor tio mesmo sem formatura
    No êxito da agricultura alguém cortar a cana
    Caçar caulim na mina sem EPI de segurança
    Cuzão que não entende a essência do bagulho
    Me julga feito um Hitler influência meio mundo
    Diz que a esperança não tá morta, que nós é forçado
    Caraio! Que porra de mundo que cê vive, arrombado
    Nunca viu rato assado matando fome de quem
    Nasce, vive, morre sem registro sem nome
    Mais um personagem pobre na laje escondendo a cara
    Que no anúncio do pipa recepciona a viatura à bala

    Aciona as peça lá
    Que nóis tá no veneno
    Enquanto houver injustiça
    O bang é monstro memo
    Apologia ao crime
    É a forma que nóis vive, tio

    Quem nas antigas só via água pelo carro pipa
    Não teme a seca mundial prevista
    Já resistiu ao inferno desde o parto forçado em casa
    Com a mãe socando a própria barriga, drogada
    Não existe ninho, nan, quando o leite do peito não sai mais
    Agora é fazer besteira ou assinar abandono de incapaz
    Nada é pior que vender o rim do próprio corpo
    Pra garantir o alimento dos pivete novo
    Fugir da seca solitário na carona dos outros
    Morrer mendigo em São Paulo sem ver a família de novo
    Porque não teve a qualificação exigida pela empresa
    Ou porque ninguém quis te dar experiência
    Quando eu precisar de atendimento hospitalar
    Cês unem o útil ao agradável pro estagiário treinar
    Depois que me matar no Albert Einstein periférico
    Não vão errar nos boys remédio nem método
    Enquanto criam SUS pra atender meu filho
    Tratam câncer com cirurgia nos Estados Unidos
    Comprovam a ineficácia seus projetos ilusórios
    É só areia nos olhos pra ganhar votos
    Até a circulação hipertensa é conseqüência do lucro da empresa
    Que o nutriente dispensa pra baratear o produto
    Ontem cê pôs o pão de açúcar no guia pro turista
    Hoje no times eu ponho a pedrada metralhando policia

    Aciona as peça lá
    Que nóis tá no veneno
    Enquanto houver injustiça
    O bang é monstro memo
    Apologia ao crime
    É a forma que nóis vive, tio

    Não trata com arrogância que hoje o analfabeto não
    Veio trazer currículo, ver se tem vaga em aberto
    Muda atitude né cu, quando em vez de limpar o vidro
    Quero o Rolex do pulso vai dá a chave do Stylo
    Só tô cumprindo o ciclo natural da vida
    Ontem queria ser jogador hoje sou cria de quadrilha
    Seqüestro filho do diretor do presídio
    Em troca da libertação dos parceiros vivos
    Explodo a testa do oficial de justiça no portão
    Quando bater palma pra dar intimação
    Vê que seu rosto sangrando é mais humano
    Que dar comida com validade vencida pra filha chorando
    Pega os móveis, corre, foge, pega tudo que pode
    Antes que a água cubre a casa e o barranco nos sufoque
    E que meteorologia 95% de exatidão é só
    Pro comércio de cerveja no verão
    Onde crianças morrem de doença evitável
    Famílias vivem sem acesso a água potável
    Onde bupropiona, campanha anti-tabaco
    Não reduz consumo de cigarro com valor barato
    Esquecido, sem sinal divino, triste
    Diversificando calibre dos 38 aos rifles
    Mas quando atribuir violência à minha cara
    Lembra que quem representa a ONU também fabrica arma

    Aciona as peça lá
    Que nóis tá no veneno
    Enquanto houver injustiça
    O bang é monstro memo
    Apologia ao crime
    É a forma que nóis vive, tio


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