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Letra

    Uma loba
    Solitária por anos e no meio da rota
    Encontrou com outra que apontou a fronteira
    Perguntou o nome dela
    E ela disse: Afronta

    E você pagaria pra ver
    O que tem atrás de garras e caninos, baby
    Quem sabe a doçura dela cê pode até encontrar
    Mas se tentar dominar, ela vai matar você

    É que eu tive que aprender a me virar sozinha
    Já que no fim a ​responsa era só minha
    Não haverá ninguém tão capaz de apagar
    A marca que eu deixei
    A caça que eu fiz começar
    E na selva não pense que ando sem companhia
    Faço um genjutsu
    Disfarço e tu acredita
    Tarde demais será quando então notar
    Se aproxima até ver
    A minha matilha atacar

    Quando portas se batem na sua cara
    Revolta, mas motivação maior é não ter saída
    Ouvi no perfil do César, quem tem boca vaia Roma
    Lembrei de lupa, a precursora que foi esquecida
    Inspiração pra mim é lembrar xica manicongo
    O ano era 1591
    Travesti preta sendo atacada em salvador
    E eu passo o mesmo em vila velha aqui em 2021

    Não pense que as histórias que eu te conto são incomuns
    Se olhar direito vai ver um monte igual a mim
    E vão perguntar porque que eu rimo assim tão rápido
    Eu que te pergunto: Quantas vezes cê parou pra ouvir?
    Quantas travas pretas que você conhece?
    Quantes não bináries que você real respeita?
    Fala que isso é baboseira e que tá pelo hip-hop
    Tu só quer ibope
    Essa fera aqui cê não peita

    Peita de marca tu pega e enfia no seu rabicó
    Porco como o racista do monteiro lobato
    Faz o rap de sítio tipo pica pau amarelo
    Porque as nossas anastácias no fundo cês só maltratam
    Seu rato
    Grito de novo: Fuck the police
    Vai lá me cancela
    Mostra que não conhece a raiz
    Do meu lado só aquelas que cês chamam de boneca
    De neca, capaz de rasgar se entrar na reta
    Isso aqui é só um aviso pra quando eles vir trombar
    Com alguma das lobinhas que estão sempre ao meu redor
    Cuidado que nóis tem fama de sempre andar em bando, cê vaza
    Conheça-nos como um enxame de pragas

    Eu vim para contar a verdade
    Aquela que você já sabe e finge não saber
    Solidão foi o que ocupou metade
    Da minha vida e te conto isso só pra entender
    A razão para abandonar
    As nossas quando descobrirem que somos assim
    Algumas até conseguem voltar
    Outras se perdem ou morrem sem concluir o caminho

    Tive que aprender me virar sozinha
    Tive que aprender a me curar sozinha
    Eu tive que aprender a caçar sozinha
    Tive que aprender a me amar sozinha


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