Explicación de Mi Amor
De golpe no estás -nada más sucedió-
borrachera fetal que tu muerte me deja.
Con esta canción que solloza, olvidada de mí,
rondaré tus maderas.
Quisiera explicarte mi amor, no tu ausencia
o mis culpas; ayer tú vivías.
Si ya no merezco cantar para ti,
yo te pido: No sigas muriendo.
El tiempo pasado, ese suave festín,
donde fuiste una caja escondida,
un clave encerrado en el muro,
una oreja en la sombra, el sigilo de nadie.
Ese tiempo y tú, lo que yo conocí,
lo que quisiste ser, clavicordio y alcohol,
sensitivo y brutal, el pasado y el piano,
acabaron en este silencio.
Si ya no merezco cantar para ti,
yo quisiera explicarte mi amor, aunque es tarde.
Tu tiempo pasó, pero yo me quedé aquí,
tañendo por ti, en tus campanas.
Cuerno de pastor de un remoto país,
piedra lisa que el alba y el cielo tocaron;
soy como tu mar, rodaré eternamente
hacia ti y, desde ti, a lo más hondo.
Mas mientras te busque en las cosas,
en tanto regreses sin que yo te llame o te olvide,
te pido que limpies mi amargo dolor;
por favor, que no sigas muriendo.
Mi padre serás, como fuiste mi padre,
un gameto en la grieta cerrada del tiempo,
voz ronca de un órgano ya enmudecido,
ahí estás, larga caja de pino.
El llanto que nombre tu nombre será
breve y, hombre, tal vez lo sabías;
pero es tanto amor exigiendo mi amor;
por favor, no te sigas muriendo.
Explicação do Meu Amor
De repente você não está -nada mais aconteceu-
uma embriaguez fetal que sua morte me deixa.
Com essa canção que soluça, esquecida de mim,
vaguei por suas madeiras.
Queria te explicar meu amor, não sua ausência
ou minhas culpas; ontem você vivia.
Se já não mereço cantar pra você,
eu te peço: Não continue morrendo.
O tempo passado, esse suave banquete,
donde você foi uma caixa escondida,
um código trancado na parede,
um ouvido na sombra, o sigilo de ninguém.
Esse tempo e você, o que eu conheci,
o que você quis ser, cravo e álcool,
sensível e brutal, o passado e o piano,
acabaram nesse silêncio.
Se já não mereço cantar pra você,
eu queria te explicar meu amor, mesmo que seja tarde.
Seu tempo passou, mas eu fiquei aqui,
tocando por você, em seus sinos.
Chifre de pastor de um país remoto,
pedra lisa que a aurora e o céu tocaram;
sou como seu mar, rodarei eternamente
em direção a você e, de você, ao mais profundo.
Mas enquanto eu te busco nas coisas,
na medida em que você voltar sem que eu te chame ou te esqueça,
te peço que limpe minha amarga dor;
por favor, que não continue morrendo.
Meu pai você será, como foi meu pai,
um gameta na fenda fechada do tempo,
vociferação rouca de um órgão já emudecido,
aí está, longa caixa de pinho.
O choro que nomear seu nome será
breve e, homem, talvez você soubesse;
mas é tanto amor exigindo meu amor;
por favor, não continue morrendo.