395px

Canetas e Guardanapos

Andrés Calamaro

Biromes y servilletas

En Montevideo hay poetas, poetas, poetas
Que sin bombos ni trompetas, trompetas, trompetas
Van saliendo de recónditos altillos, altillos, altillos
De paredes de silencios de redonda con puntillo

Salen de agujeros mal tapados, tapados, tapados
Y proyectos no alcanzados cansados, cansados
Que regresan en fantasmas de colores, colores, colores
A pintarte las ojeras y pedirte que no llores

Tienen ilusiones compartidas partidas, partidas
Pesadillas adheridas heridas, heridas
Cañerías de palabras confundidas fundidas, fundidas
A su triste paso lento por las calles y avenidas

No pretenden glorias ni laureles, laureles, laureles
Solo pasan a papeles, papeles, papeles
Experiencias totalmente personales, zonales, zonales
Elementos muy parciales que juntados no son tales

Hablan de la aurora hasta cansarse, cansarse, cansarse
Sin tener miedo a plagiarse, plagiarse, plagiarse
Nada de eso importa ya mientras escriban, escriban, escriban
Su mana su locura su neurosis obsesiva

Andan por las calles los poetas, poetas, poetas
Como si fueran cometas, cometas, cometas
En un denso cielo de metal fundido, fundido, fundido
Impenetrable, desastroso, lamentable y aburrido

En Montevideo hay biromes, biromes, biromes
Desangradas en renglones, renglones, renglones
De palabras retorciéndose, confusas, confusas, confusas
En delgadas servilletas como alcohólicas reclusas

Andan por las calles escribiendo y viendo y viendo
Lo que ven lo van diciendo y siendo y siendo
Ellos poetas a la vez que se pasean, pasean, pasean
Van contando lo que ven, y lo que no, lo fantasean

Miran para el cielo los poetas, poetas, poetas
Como si fueran saetas, saetas, saetas
Arrojadas al espacio que un rodeo, rodeo, rodeo
Hiciera regresar para clavarlas en Montevideo

Canetas e Guardanapos

Em Montevidéu há poetas, poetas, poetas
Que sem alarde nem fanfarra, fanfarra, fanfarra
Vão saindo de sótãos escondidos, escondidos, escondidos
De paredes de silêncios de redonda com ponto

Saem de buracos mal tapados, tapados, tapados
E projetos não alcançados cansados, cansados
Que voltam em fantasmas coloridos, coloridos, coloridos
Pra pintar suas olheiras e pedir que não chores

Têm ilusões compartilhadas partidas, partidas
Pesadelos grudados feridos, feridos
Canoas de palavras confusas fundidas, fundidas
Em seu triste passo lento pelas ruas e avenidas

Não buscam glórias nem louros, louros, louros
Apenas passam para papéis, papéis, papéis
Experiências totalmente pessoais, locais, locais
Elementos muito parciais que juntos não são tais

Falam da aurora até cansar, cansar, cansar
Sem medo de se plagiar, plagiar, plagiar
Nada disso importa mais enquanto escrevem, escrevem, escrevem
Sua mana sua loucura sua neurose obsessiva

Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num céu denso de metal fundido, fundido, fundido
Impenetrável, desastroso, lamentável e entediante

Em Montevidéu há canetas, canetas, canetas
Sangrando em linhas, linhas, linhas
De palavras se retorcendo, confusas, confusas, confusas
Em guardanapos finos como alcoólatras reclusas

Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
O que veem vão dizendo e sendo e sendo
Eles poetas ao mesmo tempo que passeiam, passeiam, passeiam
Vão contando o que veem, e o que não, fantasiam

Olham para o céu os poetas, poetas, poetas
Como se fossem flechas, flechas, flechas
Lançadas ao espaço que um rodeio, rodeio, rodeio
Fizesse voltar para cravá-las em Montevidéu

Composição: Léo Masliah