exibições de letras 6.321

Na Pancada do Ganzá

Antonio Nóbrega

LetraSignificado

    Eu estava em casa
    Mastigando o pensamento,
    Olhando pro firmamento,
    Que era noite de luar.
    E de repente
    Uma estrela cadente,
    Piscando na minha frente,
    Parou pra me falar.

    Ela me disse:
    Meu poeta camarada,
    Tome aqui, quero lhe dar
    Um presente magistral.
    E foi tirando
    Do seu peito colossal
    Um instrumento real
    Que ela chamava ganzá.
    Meu ganzá, meu ganzarino,
    Meu ganzarino real,
    Gira o mundo, treme a terra,
    E eu na pancada do ganzá.
    Quando eu peguei
    Meu ganzá pra cantar coco
    Eu pensei que tava louco,
    Eu não pude acreditar,
    Pois na primeira
    Batida da minha mão
    Meu ganzá caiu no chão
    E deitou logo a falar:

    Salve o coquista
    Que chegou de longe agora
    Você veio bem na hora
    De poder me resgatar
    Da solidão
    Onde eu tenho vivido,
    Onde têm me escondido
    Para eu não me revelar.
    Sou um instrumento
    Pequeno, feio, chinfrim
    Que trago dentro de mim
    Basculho pra sacolejar,
    Garrafa velha
    Qualquer coisa reciclada
    Dou beleza ritmada
    Quando vêm me balançar.

    Dou marcação
    Pro samba, pro fox-trote
    Pro baião, forró e xote
    E o que mais venham inventar.
    E o que vier,
    Até som do outro mundo,
    Sou primeiro sem segundo
    Na arte de ritmar.

    E o ganzá
    Se colou na minha mão,
    Apertei ele e então
    Senti forte um balançar.
    Fazia assim:
    Tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum
    Como no peito o baticum
    Que tá pronto pra amar.

    E fui cantando,
    Fui dizendo ao ganzarino:
    Te conheço de menino
    Mas hoje fui te encontrar.
    Ele falou:
    Te conheço há bem mais tempo
    Mas não vai ter contratempo
    Que possa nos separar.

    E disse mais:
    Meu cantor, meu menestrel,
    Eu conheço esses céus
    Antes de cabral chegar;
    Pode ir me ver
    Onde eu fui desenhado:
    Pelo pré-homem datado
    Lá na pedra do ingá.

    Eu aprendi
    Sobre ele e ele de mim,
    E tem sido sempre assim
    E assim sempre será,
    Pois nessa vida
    Quem ensina sempre aprende
    E a gente mais entende
    O que foi e o que virá.

    Fomos cantando
    O país do futebol,
    D'amazônia, praia e sol
    Do babau, do boi-bumbá
    Do são joão, da cavalhada
    Do repente, da congada
    Da catira e do guará

    Esse país,
    Feio, rico, pobre, lindo
    Que eu não sei pr'onde tá indo
    Mas eu sei que chega lá.
    Fomos ouvir
    A floresta tropical,
    O sertão, o litoral
    Ver a seca, a preamar.

    Por isso eu digo,
    Meu amigo, camarada
    Se não tá fazendo nada
    Por que cê não vem pra cá?
    Tire a gravata
    Do pescoço, solte o nó,
    Abra o peito e o gogó
    Eu, você e meu ganzá.

    Composição: Antônio Nóbrega / Wilson Freire. Essa informação está errada? Nos avise.

    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Antonio Nóbrega e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção