Crucified

Religiosidade teatral e ironia pop em “Crucified”

Em “Crucified”, o Army Of Lovers aposta em uma mistura ousada de referências religiosas e exagero pop, criando um clima em que o sagrado e o profano se encontram de forma teatral. A letra faz uso recorrente da imagem da crucificação, como em “I'm crucified, crucified like my savior” (Estou crucificado, crucificado como meu salvador), evocando o sofrimento de Jesus, mas também sugerindo uma busca pessoal por transcendência e santidade, reforçada pelo verso “Saintlike behavior, a lifetime I prayed” (Comportamento de santo, rezei a vida toda). A música traz ainda menções diretas a figuras bíblicas, como Moisés em “I stand before my maker, like Moses on the hill” (Estou diante do meu criador, como Moisés no monte), e à cidade de Jerusalém na Páscoa, em “Yherushalaim at easter” (Jerusalém na Páscoa), ampliando o tom espiritual da canção.

No entanto, a banda brinca com a teatralidade e o duplo sentido, questionando a autenticidade do sofrimento e da devoção. Trechos como “I've played a double jeux” (Joguei um jogo duplo) e “where thorns are a teaser” (onde espinhos são uma provocação) sugerem que o martírio pode ser tanto real quanto encenado. O videoclipe, gravado em um castelo sobre um antigo mosteiro, reforça essa fusão entre o sagrado e o espetáculo. A referência a “Guiness record baker” (padeiro recordista do Guinness) insere ironia, mostrando que até a busca por santidade pode virar competição ou exibição. Por fim, a repetição de “I cry, I pray, mon dieu” (Eu choro, eu rezo, meu Deus) e “adieu mon dieu” (adeus, meu Deus) destaca a entrega emocional, mas também carrega o tom dramático e performático típico do grupo.