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Retrato urbano e resistência cultural em “999” de Baco Exu do Blues

A música “999” de Baco Exu do Blues transforma o cotidiano marginalizado de Salvador em uma crônica urbana direta e provocativa. Baco mistura referências culturais, críticas sociais e provocações, criando o que ele mesmo chama de “um culto ao underground” e “um museu do lado sujo da capital baiana”. Isso aparece em versos como “Ouvindo o grito da velha assaltada”, que expõe a violência cotidiana, e em menções à rotina de festas e ressacas, como “Time da ressaca” e “Só os quebra taça”. A abordagem sem filtros reforça o tom realista da música, mostrando realidades muitas vezes ignoradas ou romantizadas.

Baco utiliza metáforas e ironias para criticar tanto o cenário do rap quanto questões sociais. Em “Tô engolindo dicionários, tô fodendo Atena”, ele desafia a sabedoria tradicional ao brincar com a figura da deusa grega Atena. A crítica à hipocrisia religiosa surge em “Morte aos padres que cometem heresia em troca de ereção”, enquanto a inversão de papéis sociais aparece em “Sábia é a puta que matou o cafetão”. O artista também ironiza o machismo ao conectar “lugar de mulher é na cozinha” com “cozinham crack”, mostrando como discursos preconceituosos são distorcidos na periferia. O refrão “Exu do Blues tá de volta” reforça sua identidade artística, unindo elementos do candomblé e do blues como símbolo de resistência e reinvenção cultural. Por fim, Baco critica a falta de valorização do rap baiano, especialmente por quem só apoia artistas em eventos de fora, deixando claro seu incômodo com versos como “Só em evento de fora que você tá lá” e “Vá se foder para lá”. “999” é, assim, um retrato cru, orgulhoso e irônico da vida urbana de Salvador.