O Preto É A Chave (part. Xarope MC)

“O Preto É A Chave (part. Xarope MC)” e a tomada de espaço

O refrão insiste que “o preto é a chave” para “abrir a cena” e “abrir a cela”, juntando indústria cultural e libertação do encarceramento/marginalização no mesmo gesto. A faixa recusa a cobrança de falar apenas de dor — “porque você é negro eu tenho que falar de favela com você?” — e afirma desejo, tecnologia, beleza e futuro produzidos por pessoas negras. Isso ecoa o projeto Bluesman, no qual Baco redefine o “blues” como linguagem de resistência e expansão da cultura negra: “Eu posso usar minha arte de outra forma… Eu vou ser intrusivo com ela”, deixando claro que sua arte vai ocupar espaços. A presença de Xarope MC amplia o coro e transforma o refrão em slogan de libertação e tomada de espaço.

A ideia central é romper estereótipos e reivindicar poder. Baco enfrenta opressores — “os opressores eu vou destruir” — e desafia clichês do rap — “sem falar de maconha nem do pó que cheirou” —, enquanto celebra conquistas e pertencimento: “patrocínios me amam… sorriso de quem pertenceu à cena”, sem reduzir tudo a consumo. As imagens cruzam orgulho nordestino e cosmopolitismo — “produto do nordeste”, “de Paris a Paripe” —, referências pop (Thanos, Mario Bros) para hiperbolizar potência e símbolos de ancestralidade/afrofuturismo em “faraó baiano” e “rimando arquiteturas do futuro”. Ao vestir “camisa do Ratos de Porão” e ouvir “o fantasmão na pegada de africano”, ele mistura punk, pagodão e matrizes africanas para afirmar uma identidade negra múltipla e inventiva. No fim, o alvo são as caixinhas raciais e o controle social; o que se afirma é autonomia, união — “juntos e unidos somos solução” — e a chave negra que abre tanto a cena quanto a cela.