Oração À Vitória

Espiritualidade e resistência em “Oração À Vitória” de Baco Exu do Blues

Em “Oração À Vitória”, Baco Exu do Blues inicia a música saudando Exu, orixá mensageiro das religiões afro-brasileiras, pedindo caminhos abertos e prosperidade. Esse gesto vai além do aspecto religioso: é uma afirmação de identidade e resistência, especialmente relevante em um país onde essas tradições são frequentemente marginalizadas. A repetição de “Àse” reforça o pedido por bênçãos e força, conectando a espiritualidade à luta diária do artista e de sua comunidade.

A letra mistura confissão pessoal e crítica social, abordando temas como racismo, violência policial e a busca por reconhecimento. Ao mencionar Caetano Veloso e Gilberto Gil, Baco revela o desejo de se tornar uma figura lendária, mas também expõe as dificuldades enfrentadas: “Ainda transamos com Sol quente na cara / Com dinheiro no bolso / Mas, a polícia me para”. A vitória é comparada a “cigarro depois do sexo”, simbolizando alívio e satisfação após a luta, mas também sugerindo prazer passageiro e vulnerabilidade. O verso “Gozo dentro e sinto que eu crio vida / Siririca no gatilho e sinto que eu tiro vida” explora a dualidade entre criação e destruição, prazer e dor, mostrando a complexidade das emoções ligadas à conquista. Além disso, o fato de a música ter sido removida das plataformas por uso não autorizado de samples de Milton Nascimento reforça a tensão entre criatividade, apropriação e os limites impostos pela indústria musical, ampliando o tom de resistência presente em toda a faixa.