O que é a cúmbia, o ritmo contagiante que conquistou a América Latina?

Desde o século XIX, a cúmbia atravessou fronteiras, ganhou novas formas em países como México, Peru e Argentina, e se reinventou. Saiba mais sobre o gênero!

Curiosidades · Por Ana Paula Marques

26 de Agosto de 2025, às 17:57


Se você ainda não sabe o que é a cúmbia, chegou a hora de mudar isso. Afinal, entre os muitos ritmos que embalam a América Latina, poucos têm a presença e a vitalidade da cúmbia.

Original da Colômbia, o gênero atravessou fronteiras e se enraizou em diversos países do continente, se reinventando a cada nova geração. Seu som, inconfundível e contagiante, faz parte do cotidiano de milhões de latino-americanos.

Fruto da fusão entre tradições indígenas e africanas, ela carrega em seu compasso séculos de resistência, celebração e identidade. Neste texto, você vai conhecer tudo sobre a cúmbia, desde suas raízes até suas versões contemporâneas.

O que é a cúmbia?

Para começar a responder à pergunta “o que é a cúmbia”, convém conhecer as raízes do ritmo, que nasceu do encontro entre culturas diferentes, como resultado do complexo processo de colonização na América Latina.

A cúmbia surgiu, provavelmente, no século XIX como uma dança de cortejo, praticada por africanos escravizados.

Ao longo do século XX, especialmente nas primeiras décadas, o gênero passou por um processo de consolidação musical, com arranjos mais estruturados e a introdução de letras, deixando de ser apenas uma forma instrumental.

A partir da década de 1940, a cúmbia começou a ultrapassar as fronteiras colombianas e se espalhar por toda a América Latina, consolidando-se como um fenômeno continental.

As origens multiculturais da cúmbia

O nome “cumbia” tem raízes africanas: há registros do termo “cumbé” como referência a danças praticadas por negros, e “cumbe” como o nome dado aos habitantes de Bata, na atual Guiné Equatorial.

Contudo, a origem do ritmo é uma fusão de tradições indígenas, africanas e europeias.

A primeira camada cultural que deu origem a esse gênero foi indígena. Antes mesmo da chegada dos colonizadores europeus, comunidades como os Tairona já usavam instrumentos ligados ao ritmo, como a flauta de millo, gaitas e maracas.

Com a chegada de africanos escravizados, instrumentos de sopro e percussão indígenas se juntaram aos tambores africanos, como o tambor alegre, o llamador e o tambora, conferindo à cúmbia sua batida característica e uma base rítmica mais pulsante.

A contribuição europeia viria posteriormente com o acordeão, instrumento muito utilizado no norte da Colômbia e em países como o México e a Argentina. O vestuário tradicional das danças de cúmbia também recebeu influência europeia, com vestidos rodados e chapéus.

A transformação da cúmbia ao longo do tempo

O passar do tempo e as interferências de cada país latino acabaram promovendo a constante transformação da cúmbia, um ritmo em eterna construção.

No México, por exemplo, a cúmbia foi difundida com o apoio de orquestras de big band e incorporando elementos do mariachi, do son e de outras sonoridades caribenhas, além de instrumentos como a guitarra elétrica, o baixo e o clarinete.

Já no Peru, a cúmbia encontrou terreno fértil para uma das suas transformações mais interessantes: a cúmbia psicodélica, também chamada de “chicha”, que surgiu nos anos 1960, misturando influências do rock, da surf music, da salsa e do bolero.

Na Argentina, a cúmbia se misturou ao chamamé e ao tango. Mais recentemente, foi o berço da chamada “cumbia villera”, um subgênero que traz letras que retratam o cotidiano das periferias urbanas, abordando temas como violência e desigualdade social.

As primeiras gravações comerciais datam da década de 1950, como Cumbia Cienaguera, do colombiano Luis Carlos Meyer Castandet, Flamenco, de Efraín Mejía, e Once de Noviembre, de Antonio Lucía Pacheco.

O que é a cúmbia: as características musicais do ritmo

A cúmbia é marcada pela percussividade, que favorece sua capacidade de adaptação.

Na forma mais autêntica e tradicional, o ritmo é essencialmente instrumental e gira em torno de um conjunto de percussão formado por três tambores principais: o tambor alegre, responsável pelos improvisos; o chamador, que marca o tempo; e a tambora, de som grave.

Esses instrumentos são acompanhados por maracas, el guache (um tipo de chocalho metálico) e, sobretudo, por instrumentos de sopro tradicionais como a flauta de millo e as gaitas indígenas.

Com o tempo, a cúmbia passou a incorporar o canto, inicialmente alternando-se entre solistas e coros, ou entre quartetos vocais e os instrumentos melódicos. A versão cantada é uma das primeiras expansões estilísticas do gênero.

Compasso binário irresistível

A estrutura rítmica da cúmbia é baseada em um compasso binário (2/4), com um padrão percussivo bastante característico, que muitos descrevem como um som repetitivo e envolvente, semelhante a “chu-chucu-chu”.

Esse padrão cria uma base estável que favorece tanto a dança quanto a improvisação instrumental.

A dança da cúmbia é tão diversa quanto suas variações musicais, mas certas características se mantêm presentes em quase todas as versões.

Tradicionalmente, a dança é executada em pares, geralmente em formato circular, com os homens realizando movimentos em zigue-zague e as mulheres mantendo os pés em movimento constante, como se estivessem varrendo o chão com a ponta dos vestidos.

A postura é elegante, com pouco contato físico direto, o que reforça o caráter de cortejo da dança.

Em algumas versões mais antigas, a dança é acompanhada de palmas ritmadas, interações entre os dançarinos e, em muitos casos, elementos coreográficos simbólicos, como o uso de velas pelas mulheres.

Um ritmo em constante evolução

Com a expansão do gênero pela América Latina, surgiram novas formas de dançar cúmbia, adaptadas às influências culturais de cada região.

No México, por exemplo, a dança ganhou características mais festivas e movimentos mais soltos, acompanhando os arranjos mais rápidos da cúmbia tropical. Na Argentina, a dança adquiriu uma linguagem corporal mais informal, com maior liberdade de movimentos.

Além disso, cada país foi desenvolvendo sua própria cúmbia: os mexicanos absorveram instrumentos como clarinete, congas e metais, bem como bases eletrônicas, sintetizadores e guitarras elétricas, especialmente a partir dos anos 1960.

No Peru, por outro lado, a cúmbia ganhou toques de rock psicodélico, como guitarras elétricas com efeitos, o charango andino, o cajón peruano e elementos de gêneros locais, como o huayno e o vals criollo.

No fim das contas, as variações rítmicas e estilísticas da cúmbia em toda a América Latina demonstram como o gênero se molda às realidades culturais e sociais de cada região, com uma base rítmica sólida que oferece incontáveis possibilidades de fusão com outros estilos.

A cúmbia no século XXI

Atualmente, a cúmbia segue como um dos gêneros musicais mais vivos e adaptáveis da América Latina, presente em festas, celebrações populares e até em palcos internacionais.

Há projetos que misturam cúmbia com música eletrônica, hip-hop, reggae e até country, demonstrando a capacidade do gênero de dialogar com tendências contemporâneas sem perder suas raízes.

Também se destacam coletivos como Systema Solar e Chico Trujillo, do Chile, que misturam cúmbia com funk, reggaeton, hip hop e outros estilos urbanos, demonstrando que a cúmbia segue se reinventando sem perder sua essência.

Os principais artistas e hits da cúmbia

Ao longo das décadas, a cúmbia revelou nomes que se tornaram lendas da música latino-americana, que contribuíram para popularizar o gênero e levá-lo além das fronteiras da Colômbia.

Um dos maiores ícones da cúmbia tradicional é o colombiano Andrés Landero, conhecido como o “Rei da Cúmbia”, cuja música levou os sons do acordeón e da gaita colombiana às festas populares.

Totó la Momposina, com seu profundo respeito pelas raízes afro-indígenas do ritmo, se tornou uma das maiores representantes do gênero no mundo, misturando tradição e presença cênica com um compromisso claro com a preservação cultural.

Na Argentina, grupos como Los Pibes Chorros e Damas Gratis deram o tom à cumbia villera, enquanto no México despontaram nomes como Los Ángeles Azules, dos hits Cómo Te Voy a Olvidar, 17 Años e Mis Sentimientos, clássicos modernos da cúmbia mexicana.

Mais que isso, a cúmbia também encontrou espaço para fusões e experimentações no cenário contemporâneo. Artistas como Bomba Estéreo, da Colômbia, misturam eletrônica com ritmos tradicionais, dando nova vida ao gênero.

Esses artistas e suas obras mostram como o gênero se mantém relevante e vivo, sempre em movimento, sempre pulsando com a alma latino-americana.

Conheça o que é a cúmbia mexicana

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