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Samba-enredo Beija-Flor 2022: confira a análise completa

Analisando letras · Por Rafaela Damasceno

11 de Fevereiro de 2022, às 19:00

Em outubro de 2021, a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, do Rio de Janeiro, anunciou o seu tema para 2022. Assim como em outros anos do Carnaval da Beija-Flor, foi escolhida a temática dos negros e do preconceito racial.

Samba-enredo da Beija-Flor de 2022
Créditos: Divulgação

O samba-enredo Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor tem como tema a história de luta contra o racismo no Brasil e no mundo. A composição foi realizada em grupo e assinada por Jorge Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa. 

A proposta da agremiação nilopolitana é explorar atitudes racistas do dia a dia, além da polarização da sociedade atual. Se você curte esse tema e ficou curioso para saber mais sobre o samba-enredo da Beija-Flor em 2022, não deixe de conferir a nossa análise! 😉

Análise do samba-enredo da Beija-Flor 2022

O ano já começou e, daqui a pouco, o Carnaval carioca vai nos presentear com a competição que nós mais amamos: a disputa das escolas de samba.

Então, que tal saber qual o enredo da Beija-Flor 2022? Saiba tudo sobre ele com a nossa análise detalhada, estrofe a estrofe. 

Empretecer o Pensamento é Ouvir a Voz da Beija-Flor

Vamos começar pelo título, para entendermos qual é a origem do samba-enredo. O que significa a palavra “empretecer”? De acordo com os autores da música, é dar à humanidade a oportunidade de enxergar novos caminhos para o futuro, principalmente em relação aos negros. 

Cantores do Samba-enredo Beija-Flor
Créditos: Divulgação

Ao longo dos anos, a África foi vista de forma estereotipada pelo Ocidente, como um aglomerado de sociedades tribais, muito distantes da nossa realidade. Assim, toda a cultura desses povos foi deixada de lado e vista até mesmo de forma preconceituosa.

A proposta da letra do samba da Beija-Flor é quebrar esse paradigma e valorizar os atributos culturais dos países africanos. Afinal, eles contribuíram muito para o crescimento do povo brasileiro e também foram super importantes para a história do samba em nosso país. 

A nobreza do Ébano

A nobreza da corte é de Ébano
Tem o mesmo sangue que o seu
Ergue o punho, exige igualdade
Traz de volta o que a história escondeu
Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu
Mas você não reconhece o que o negro construiu
Foi-se ao açoite, a chibata sucumbiu
E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil
Quem é sempre revistado é refém da acusação
O racismo mascarado pela falsa abolição
Por um novo nascimento, um levante, um compromisso
Retirando o pensamento da entrada de serviço

A letra do samba-enredo da Beija-Flor 2022 já começa com um verso forte e cheio de significado, ao citar o ébano, uma madeira que é escura e muito densa. Essa é uma clara referência à força e à resiliência dos negros.

Essa ideia continua a ser reforçada nos próximos trechos, em que os interlocutores são chamados a erguer o punho para exigir igualdade entre as pessoas. Há também várias imagens que nos remetem à escravidão, como o açoite e a chibata. 

Além disso, os autores também escreveram sobre atitudes racistas mascaradas que se perpetuam na sociedade atual, mas que tiveram origem na abolição da escravatura no Brasil.

Segundo eles, esse ato não foi totalmente benéfico para os escravos, porque eles continuam presos até hoje ao racismo estrutural. 

O povo que não se cala

Versos para cruz, conceição no altar
Canindé Jesus, ô Clara!!
Nossa gente preta tem feitiço na palavra
Do Brasil acorrentado, ao Brasil que não se cala

Nesta estrofe, alguns ícones negros do Brasil são enaltecidos: Cruz e Souza, poeta, Conceição Evaristo, linguista e escritora, Carolina Maria de Jesus e Machado de Assis, escritores, e Clara dos Anjos, personagem do escritor e jornalista negro Lima Barreto.

Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus / Créditos: Divulgação

E a voz inconfundível do Neguinho da Beija-Flor clama em alto e bom som pela libertação desse povo, que era acorrentado e hoje não deve mais se manter calado.

Ancestralidade e tradição

Meu pai Ogum ao lado de Xangô
A espada e a lei por onde a fé luziu
Sob a tradição Nagô
O grêmio do gueto resistiu
Nada menos que respeito, não me venha sufocar
Quantas dores, quantas vidas nós teremos que pagar?
Cada corpo um orixá! Cada pele um atabaque
Arte negra em contra-ataque
Canta Beija Flor! Meu lugar de fala
Chega de aceitar o argumento
Sem senhor e nem senzala, vive um povo soberano
De sangue azul nilopolitano

Várias referências às religiões de raízes africanas também fazem parte da letra do samba-enredo de 2022 da Beija-Flor. No primeiro verso, são citados Ogum, orixá guerreiro, que representa a força e a coragem, e Xangô, considerado o deus da justiça. Dois elementos super importantes para a luta racial, não é mesmo? 

Há também uma menção à tradição nagô, que indica um dos maiores grupos étnicos da África. Na língua portuguesa, essa palavra também costuma ser usada para se referir ao negro escravizado no Brasil. 

Além disso, temos a expressão “grêmio do gueto”, que indica o bairro de uma cidade onde vivem as minorias da sociedade. Como a Beija-Flor é uma agremiação que luta pela defesa dos negros, as pessoas costumam se referir a ela dessa forma. 

Trio de atabaques
Trio de atabaques / Créditos: Divulgação

Por fim, é mencionado o atabaque, instrumento musical de percussão afro-brasileiro. Ele é muito usado na composição de sambas enredo de Carnaval e é um elemento importante da identidade negra. 

Embora esteja repleta de referências da cultura afro-brasileira, a mensagem dessa estrofe não é direcionada apenas a esse grupo. Afinal, todas as pessoas devem se unir para alcançar a igualdade das raças.

Luta e resistência

Mocambo de crioulo: Sou eu! Sou eu!
Tenho a raça que a mordaça não calou
Ergui o meu castelo dos pilares de Cabana
Dinastia Beija Flor!

Este primeiro verso tem tudo para se tornar umas das frases de samba enredo mais marcantes de todos os tempos. Para quem não sabe, o mocambo era um tipo de habitação bastante precária, com nenhum conforto. Era muito comum no período colonial, em que os escravos viviam todos aglomerados nesses locais. 

Sem falar da mordaça, uma espécie de tira fina de pano, que tentava calar as vozes dos negros durante a escravidão. Esse era apenas um dos objetos de repressão usados pelos senhores de engenho naquela época

Apesar de todas as limitações impostas e de todo o sofrimento vivido, o povo negro não se calou e continua a lutar pelos seus direitos. Tomara que o samba-enredo da Beija-Flor 2022 se torne mais um hino de resistência para todos os negros do Brasil e do mundo! 👊

Mais sambas-enredo pra você

E aí, gostou de saber mais sobre o samba-enredo da Beija-Flor? Apostamos que você não quer perder nada do desfile.

Para te ajudar com isso, listamos os significados dos principais sambas-enredos de 2022! Confira:

sambas-enredo 2022