395px

Com o Dedo no Gatilho

Carlos Bahr

Con El Dedo En El Gatillo

Uno no es un amargado; pero vive medio chivo
Por las cosas de este mundo con su cruel contradicción.
Cuando estás vivo y coleando te mezquinan pan y abrigo
Y después te compran flores cuando estas en el cajón.

Te disputan el marroco que a tirones vas ganando;
En la riña por el mango te la dan sin avisar...
Y después, con esa guita que a vos mismo te sacaron,
Quieren darte una limosna pa' mostrarte su bondad.

Hay que ver como te atienden con el dedo en el gatillo,
Te empaquetan y despachan en el mismo mostrador.
Si te alargan una mano, ya podrás gritar ¡auxilio!
Y apretarte los bolsillos por si es manga o manotón.

Y aunque dejes los pulmones en el trágico entrevero
Tironeando en la porfía de ganar con tu verdad,
Afanados por la angurria de comerse tu puchero
No te dejan ni el consuelo miserable de empatar.

Te uti1izan y te cuelgan. y de paso, todavía,
Se hacen ver como si fueran los que te hacen el favor.
Y aunque vos quieras reírte al final no te da risa
Ni siquiera con cosquillas y aunque es gratis la función.

Te sonríen y te afanan. te dan y te palmean
Como quien no quiere nada, no te dejan ni un botón.
Y si es duro lo que digo, al ingenuo que no crea
Con que muestre una moneda, que le salven la ilusión.

Com o Dedo no Gatilho

Um não é um amargado; mas vive meio na boa
Por causa das coisas desse mundo com sua cruel contradição.
Quando você tá vivo e firme, te negam pão e abrigo
E depois te compram flores quando você tá no caixão.

Te disputam o que é seu que aos trancos você vai ganhando;
Na briga pelo que é seu, te dão sem avisar...
E depois, com essa grana que de você mesmo tiraram,
Querem te dar uma esmola pra mostrar que são de boa.

Tem que ver como te tratam com o dedo no gatilho,
Te embalam e despacham no mesmo balcão.
Se te estendem uma mão, já pode gritar socorro!
E apertar os bolsos pra ver se é mão ou mãozada.

E mesmo que você deixe os pulmões no trágico embate
Puxando na briga pra ganhar com sua verdade,
Focados na ganância de devorar seu prato
Não te deixam nem o consolo miserável de empatar.

Te usam e te penduram. E de quebra, ainda,
Se fazem de bonzinhos como se fizessem um favor.
E mesmo que você queira rir, no final não dá risada
Nem com cócegas, e mesmo assim a função é de graça.

Te sorriem e te roubam, te dão e te palmeiam
Como quem não quer nada, não te deixam nem um botão.
E se é duro o que eu digo, pro ingênuo que não acredita
Que mostre uma moeda, que salvem a ilusão.

Composição: Carlos Bahr