Infância

Cotidiano e memória afetiva no poema “Infância” de Drummond

Em “Infância”, Carlos Drummond de Andrade destaca a beleza do cotidiano familiar, contrapondo-a às grandes aventuras literárias, como a de “Robinson Crusoé”. O verso final, “E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé”, deixa claro que, para o poeta, as experiências simples e as relações do dia a dia têm mais valor do que feitos extraordinários. Drummond propõe uma inversão de expectativa, mostrando que a verdadeira riqueza está nas pequenas vivências e nos laços afetivos.

O poema cria um clima nostálgico ao retratar cenas comuns da infância em Itabira, Minas Gerais: o pai indo ao campo, a mãe costurando e o café servido por uma voz que remete à herança da senzala. A repetição de gestos cotidianos, como “Minha mãe ficava sentada cosendo”, e o cuidado com o irmão pequeno reforçam a importância da rotina familiar e do afeto silencioso. O uso de linguagem coloquial e referências à cultura regional aproximam o leitor dessa memória afetiva, tornando-a universal. A menção à “preta velha” e à voz que “aprendeu a ninar nos longes da senzala” traz uma dimensão histórica, lembrando o papel das pessoas negras na formação da família brasileira.

A emoção central do poema é a ternura, acompanhada de uma leve melancolia pelo tempo que passou. O olhar do menino, que só mais tarde reconhece a beleza de sua própria história, convida à reflexão sobre o valor das origens e da simplicidade. “Infância” celebra a memória, a família e o cotidiano, mostrando que as maiores aventuras podem estar nas experiências mais íntimas.