Aprendiz

“Aprendiz”: limites, autonomia e o fim que protege

“Aprendiz” mapeia a descoberta de limites afetivos com um gesto raro: desejar o bem do outro longe de si. Quando ele repete “eu já aprendi a dizer não” e “pra você que seja com outra pessoa”, fica claro que é autopreservação, não vingança — em linha com a ideia de autodescoberta e priorização da saúde emocional. O verso “quantas vezes uma solidão a dois / a gente é deixado pra depois” expõe o padrão que machuca: estar junto e, mesmo assim, ser negligenciado. As cenas do “sem recado” e da “secretaria eletrônica ao lado / tem mais coração que você” traduzem a falta de presença; ele percebe a repetição dessas dinâmicas e decide não sustentá-las. Mesmo vendo beleza no outro (“vi o sol de jah nascer do teu peito”), admite “hoje eu não tô zen” e busca encerrar o dia em paz — impor limites sem amargura.

A narrativa caminha do desejo de algo bom para ambos à renúncia. “Nossa história é legal, porque no fim o mocinho se dá mal” assume a ferida, e “quantas vezes a mulher não quer ser o mocinho” cutuca papéis de gênero e a recusa dela em performar a “boazinha”. O refrão “você não é de ninguém” carrega duplo sentido: afirmação de independência, mas também crítica à falta de compromisso — daí a pergunta “e quando tava comigo era de quem?”. Ele oscila entre ciúme e lucidez (“isso pode ser coisa da minha cabeça”), reconhece o desgaste no corpo (“medo de dor de estômago”), recusa a revanche (“o homem não tem força pro revide”) e crava o aprendizado: “se voltar pra mim, vai me fazer sofrer”. O fecho “Depois que o passarinho chegou” sugere um novo ciclo, um respiro após a tensão, leveza conquistada pelo “não” que protege os dois.