Diário do Kaos

Vivências e resistência em "Diário do Kaos" de Criolo

"Diário do Kaos", de Criolo, traz um título com duplo sentido: além de abordar o caos social e emocional intensificado pela pandemia, o "K" faz referência ao nome de batismo do artista, Kleber. Assim, a música se apresenta como um relato tanto pessoal quanto coletivo sobre a sobrevivência em meio à adversidade. A letra expõe de forma direta a realidade dos jovens das periferias, marcados pela violência, falta de oportunidades e pela pressão de buscar reconhecimento por meio de bens materiais, como Criolo aponta em: “Na cinta pra carregar uma falsa ilusão / De ouro cordão, prata, carro, moto, um dinheiro bão”. Essa busca é mostrada como uma armadilha, uma "falsa ilusão" que não resolve a dor, reforçando o ciclo de exclusão e sofrimento.

No verso “Pra desabafar meu rap vai me levar / Aos confins do mundo pra dizer / Que só o amor pode te afastar do canhão / De um doze, de um tiro, de uma arma, de uma desilusão”, Criolo sintetiza sua proposta: a arte, especialmente o rap, é apresentada como ferramenta de resistência e esperança diante da violência e da desesperança. O contexto da pandemia e o aumento da violência no Brasil, que inspiraram o álbum, aparecem na sensação de desamparo e na repetição de “você é nada, nada, nada, nada pro sistema, Pai”. Apesar disso, a música valoriza pequenos gestos e sonhos, como ser “melhor, tipo um doce, uma coisa, um chocolate, uma pedra rara”, mostrando que, mesmo no caos, ainda há espaço para humanidade e afeto. A produção soul e a entrega vocal intensa de Criolo reforçam o tom de desabafo e urgência, tornando "Diário do Kaos" um retrato forte da luta por dignidade em tempos difíceis.