Zetsubou Billy

Entre lei e punição em “Zetsubou Billy”, de Death Note

A letra transforma Kira de indivíduo em contágio coletivo: “We are the ‘kira’ / Even your ‘kira’” (Nós somos o “Kira” / Até o seu “Kira”). Oposta “Menzai no WORLD” (mundo da absolvição) a “Seisai no WORD” (palavra da punição), a canção mostra como uma palavra escrita — o nome — vira sentença, espelhando a lógica de Death Note. “Nooto ni moudoku” (veneno mortal no caderno) liga diretamente o poder de matar ao objeto. A voz é plural e febril, uma massa que oscila entre idolatria e pavor. “Aganau houritsu geemu” (jogo da lei para expiação) reduz a lei a um tabuleiro manipulável, enquanto “Eru netsu” (febre do L) aponta L como a força antagônica a Kira. O conflito central é justiça institucional versus justiça letal e privada; estão em jogo controle, moralidade e quem tem o direito de julgar e punir.

As imagens apertam o torniquete do desespero: “Tomerarenai eraser rain” (chuva apagadora que não dá para parar) sugere nomes, provas e limites sendo varridos, como a sequência de mortes do clipe quando “Kira” surge. “Hantei! ‘jinken’ ‘jiken’ ‘zouo’” (Julgamento! “direitos humanos” “caso criminal” “ódio”) cola, sem respiro, termos usados para legitimar execuções. “Hokusoemu shinigami inga kankei” (shinigami rindo de canto de boca, relação de causalidade) traz o distanciamento cínico dos shinigami diante da ruína moral. No refrão, “Zetsubou za billy / Iza rinri” (Desespero Billy / Agora, ética) convoca a ética em meio ao caos, mas a repetição agressiva indica que a fronteira já foi cruzada. Usada como encerramento de Death Note, a faixa captura e intensifica o impasse: lei vs. crime, julgamento vs. poder, punição vs. compaixão — e uma sociedade que adere à lógica de Kira.