Dona Tristeza

A dor e a esperança no sertão em “Dona Tristeza”

Em “Dona Tristeza”, Delmiro Barros transforma a tristeza em uma personagem indesejada e "mal educada", mostrando como a dor emocional pode ser sentida como algo externo, que invade a vida da pessoa sem ser convidada. Esse recurso destaca que o sofrimento não é apenas um sentimento interno, mas também uma força que se impõe de fora, tornando-se quase palpável. A expressão “fez um buraco na parede do meu peito” ilustra de forma clara e visual o impacto da ausência da pessoa amada, conectando o sentimento de saudade à cultura nordestina, onde as imagens do cotidiano são muito presentes na linguagem. O trecho sobre o "barreiro de amor" que "encheu de mágoa" e só "deságua se meu bem voltar pra mim" usa uma metáfora típica do interior, remetendo à vida rural de Delmiro Barros e à sua origem em São José do Egito, reforçando a ligação entre o ambiente físico do sertão e o universo emocional do eu lírico.

A música gira em torno da saudade e da esperança de reencontro, sentimentos expressos de forma simples e direta, como em “espero para matar meu desejo, encher de beijos quando lhe ver”. A paz interior do narrador depende totalmente do retorno da pessoa amada, evidenciando a intensidade da paixão e a dependência afetiva. O tom melancólico é reforçado pela espera e pela lembrança do passado feliz, como em “relembro ainda a nossa paixão” e “sua ausência dilacera, meu coração”. Ao expor a dor, a letra também revela a força do amor e da esperança, elementos centrais nas canções de Delmiro Barros, sempre ligadas à tradição poética e sentimental do sertão nordestino.