exibições de letras 1.961

Monólogo das Mãos

Diego Sá

Letra

    As mãos servem para pedir, prometer, chamar, conceder, ameaçar, suplicar, exigir, acariciar, recusar, interrogar, admirar, confessar, calcular, comandar, injuriar, incitar, teimar, encorajar, acusar, condenar, absolver, perdoar, desprezar, desafiar, aplaudir, reger, benzer, humilhar, reconciliar, exaltar, construir, trabalhar, escrever

    As mãos de maria antonieta, ao receber o beijo de mirabeau
    Salvou o trono da frança e apagou a auréola do famoso revolucionário;
    Múcio cévola queimou a mão que, por engano não matou porcena;
    Foi com as mãos que Jesus amparou madalena;
    Com as mãos david agitou a funda que matou golias;
    As mãos dos césares romanos decidiam a sorte
    Dos gladiadores vencidos na arena;
    Pilatos lavou as mãos para limpar a consciência;
    Os anti-semitas marcavam a porta dos judeus
    Com as mãos vermelhas como signo de morte!

    Foi com as mãos que judas pôs ao pescoço
    O laço que os outros judas não encontram
    A mão serve para o herói empunhar a espada e o carrasco, a corda;
    O operário construir e o burguês destruir;
    O bom amparar e o justo punir;
    O amante acariciar e o ladrão roubar;
    O honesto trabalhar e o viciado jogar

    Com as mãos atira-se um beijo ou uma pedra
    Uma flor ou uma granada, uma esmola ou uma bomba!
    Com as mãos o agricultor semeia e o anarquista incendeia!
    As mãos fazem os salva-vidas e os canhões;
    Os remédios e os venenos;
    Os bálsamos e os instrumentos de tortura
    A arma que fere e o bisturi que salva

    Com as mãos tapamos os olhos para não ver
    E com elas protegemos a vista para ver melhor
    Os olhos dos cegos são as mãos
    As mãos na agulheta do submarino
    Levam o homem para o fundo como os peixes;
    No volante da aeronave atiram-nos para as alturas como os pássaros

    O autor do "homo rebus" lembra que a mão
    Foi o primeiro prato para o alimento e o primeiro copo para a bebida;
    A primeira almofada para repousar a cabeça
    A primeira arma e a primeira linguagem
    Esfregando dois ramos, conseguiram-se as chamas

    A mão aberta, acariciando, mostra a bondade;
    Fechada e levantada mostra a força e o poder;
    Empunha a espada a pena e a cruz!
    Modela os mármores e os bronzes;
    Da cor às telas e concretiza os sonhos do pensamento
    E da fantasia nas formas eternas da beleza
    Humilde e poderosa no trabalho, cria a riqueza;
    Doce e piedosa nos afetos medica as chagas
    Conforta os aflitos e protege os fracos

    O aperto de duas mãos pode ser a mais sincera
    Confissão de amor, o melhor pacto de amizade
    Ou um juramento de felicidade
    O noivo para casar-se pede a mão de sua amada;
    Jesus abençoava com as mãos;
    As mães protegem os filhos cobrindo-lhes
    Com as mãos as cabeças inocentes
    Nas despedidas, a gente parte, mas a mão fica
    Ainda por muito tempo agitando o lenço no ar

    Com as mãos limpamos as nossas lágrimas e as lágrimas alheias
    E nos dois extremos da vida, quando abrimos os olhos
    Para o mundo e quando os fechamos para sempre
    Ainda as mãos prevalecem
    Quando nascemos, para nos levar a carícia do primeiro beijo
    São as mãos maternas que nos seguram o corpo pequenino
    E no fim da vida, quando os olhos fecham e o coração pára

    O corpo gela e os sentidos desaparecem
    São as mãos, ainda brancas de cera que continuam
    Na morte as funções da vida
    E as mãos dos amigos nos conduzem...
    E as mãos dos coveiros nos enterram!


    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Diego Sá e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção