¿Qué Ves?

Crítica social e desconfiança em “¿Qué Ves?” de Divididos

Em “¿Qué Ves?”, a banda Divididos explora a desconfiança sobre como as pessoas se enxergam em uma sociedade marcada pela manipulação e pela confusão entre mentira e verdade. A repetição da pergunta “¿Qué ves cuando me ves?” destaca a dúvida constante sobre a autenticidade das relações e das percepções. O verso “Cuando la mentira es la verdad” (“Quando a mentira é a verdade”) reforça a crítica à superficialidade e à distorção da realidade, seja pela mídia, pela cultura ou nas interações do dia a dia. Esse tom irônico e direto ganha ainda mais força quando se considera o contexto de instabilidade política e social da Argentina nos anos 1990, período em que a música foi lançada.

A letra traz referências culturais argentinas, como em “El wah, wah de Troilo no quiere arrancar” (“O wah-wah de Troilo não quer ligar”), evocando tanto a tradição musical quanto uma sensação de paralisia diante das mudanças. Trechos como “La prensa de Dios lleva poster central” (“A imprensa de Deus traz pôster central”) ironizam o papel da imprensa e da religião na criação de verdades convenientes. Já “El bien y el mal definen por penal” (“O bem e o mal são decididos nos pênaltis”) sugere que até questões morais são tratadas de forma arbitrária. Ao citar situações cotidianas, como “Fia la chapita porrón en palomar / Cruzando la via pa' poderla pasar”, a música aproxima o discurso da realidade popular, mostrando que a confusão entre aparência e essência está presente em todos os níveis sociais. No final, a frase “Mentira es la última verdad” (“Mentira é a última verdade”) resume a mensagem central: em um mundo de manipulações, a mentira acaba sendo a única certeza.