O Veneno

Milhares de ideias objectivas ecoam o meu pensamento
Muita coisa pra se dizer e pensar num só momento
Quisera puder expressar tudo, mas quase não aguento
Há quem nem consegue falar, mas pelo menos eu tento

Ando desgostoso com essa vida e quase que deprimido
Porque a muito tempo que eu a vejo não fazer sentido
É nascer (Humph!)... Pra viver a sofrer?
Ver ricos enriquecer e pobres a empobrecer?

Estar num país com riqueza mas só conhecer pobreza
Ver gente sem casa, cama ou até comida na mesa
Isso me pesa... Eles só dizem wi reza
Mas até a vela gasta depois de muito tempo acesa

Será isso que queriam, era isso que esperavam
Quando simplesmente olhavam, enquanto eles vos roubavam?
Deixaram tudo andar, nas mãos de Deus ou do Diabo
E hoje temos um futuro envenenado como resultado

A minha cidade é linda e até de bem querer
Mas duvido que algum dia hei de ama-la até morrer
Não por razões estéticas, minha mente não tão céptica
Luanda é bem mais bonita sobre o efeito do Retrica

Vivo aqui já a um bom tempo vi pouca coisa que preste
No meu próprio território me sinto um extraterrestre
Alguém um dia me disse que a vida é feita de escolhas
Mas não lembro de ter escolhido nascer em Angola

Já perdemos a humildade e até custa admitir
Podemos ver a verdade mas estamos a nos mentir
É preciso ter coragem e falta de vergonha na cara
Pra ser pobre e se viver numa cidade tão cara

Se tu entras já não sais... Se tentares será pior
Pois eles são certeza pra um futuro melhor
Não adianta só estudar e aspirar ser doutor
Pra alcançares um patamar, tens que ser bajulador

Não tenho o porquê mentir eu vejo ninguém me conta
O veneno já foi espalhado de ponta a ponta
E ai de ti... Se fores daqueles do contra
Levam-te fazem desaparecer sem ninguém dar conta

Muitos preferem fingir, ou até mesmo se abster
Acham que estão bem de vida então preferem nem se meter
E até podem ter razão, mas eles estão a esquecer
Que se plantarem areia é poeira que irão colher

Não apelo ao bom senso de pessoas que não têm
E nem tento abrir os olhos de pessoas que não vêm
A verdade é um veneno que poucos podem aguentar
Mas é também ela a cura que muitos devem buscar

Acontece muita coisa e prefiro nem detalhar
Assuntos muito sensíveis que eu prefiro nem tocar
Antes que os quem de direito conotem a minha intenção
Vou guardar o meu veneno pra uma outra ocasião

O tempo passa enquanto ficamos estagnados a olhar para o passado
E enquanto o futuro acontece, ficamos de braços cruzados
Queremos dizer que somos, que temos e que podemos
Mas não escondemos quem somos e não sabemos o que queremos
Devemos Acordar!