Cabaña (part. Ugly Duck)

Sedução, infidelidade e poder em “Cabaña (part. Ugly Duck)”

Em “Cabaña (part. Ugly Duck)”, “cabaña” (cabana) funciona como eufemismo direto de sexo e como espaço de sigilo para a traição que o refrão explicita: “Al pololo ella lo engaña” (Ela engana o namorado). O narrador assume um meta-ego em “Escuchándome se baña” (Ela toma banho me ouvindo), transformando a própria música em combustível do desejo. A trama é simples: encontro na pista, química imediata e convite para a intimidade em diferentes lugares (cabana, suíte, banheiro), com perreo, drogas e ostentação. A geografia e as marcas constroem status e mobilidade: “ese booty es Made In / Directo de Medellín” (esse bumbum é feito em / direto de Medellín) sugere o padrão “BBL”; Licanray aparece como cartão-postal chileno; “diabla de Quinta Normal” (diabinha de Quinta Normal) aproxima a fantasia ao bairro; e “Loui’ Vuittin” (Louis Vuitton) carimba o luxo.

A letra aciona gírias e códigos para intensificar a fantasia sexual-química: “te viene’ como champaña” (você goza como champanhe), “se lo meto y queda high” (eu meto e ela fica chapada), “perco’” (Percocet), “lean” (xarope de codeína com refrigerante), “vamo’ a enrolarno’ como treinta caño’” (vamos enrolar uns trinta baseados). No perreo, “ponte en forty” (fica de quatro) define a posição; “voy a echar más de three” (vou mandar mais de três rodadas) projeta virilidade. O tom é de desejo e autoconfiança, convertendo a infidelidade da “baby” em troféu de ego.

Nos bastidores, há polêmica: apesar do tag “Ugly Duck” abrir a faixa, o rapper acusou El Jordan 23 de tê-lo tirado dos créditos e da capa, além de não receber pagamento pelo hit. Esse embate por crédito e dinheiro, recorrente no cenário urbano chileno, espelha o jogo de poder que a própria letra performa — quem capitaliza o desejo transformado em números e status.