Eu não pedi pra nascer

Dor e abandono infantil em "Eu não pedi pra nascer"

"Eu não pedi pra nascer", do Espaço Rap, retrata de forma direta e impactante a vida de uma criança vítima de abuso, negligência e pobreza extrema. A letra expõe o sofrimento físico e emocional do narrador, como nos versos “Minha mão pequena bate no vidro do carro / No braço se destacam as queimaduras de cigarro”, que mostram a vulnerabilidade e a violência sofrida. A rejeição materna aparece de maneira explícita em frases como “tentou me abortar” e “tentou me vender”, evidenciando o abandono desde o nascimento. O contexto da música se inspira em histórias reais de crianças das periferias urbanas, tema frequente nas composições do Facção Central, grupo ao qual o Espaço Rap está ligado.

A canção utiliza uma linguagem crua para denunciar a ausência de cuidado e o ciclo de violência doméstica. O trecho “O seu papel devia ser cuidar de mim, cuidar de mim, cuidar de mim / Não espancar, torturar, machucar, me bater, eu não pedi pra nascer” reforça a expectativa frustrada de proteção materna. O desejo por afeto aparece em “Eu não queria Playstation nem bicicleta, / Só ouvir a palavra filho da boca dela”, mostrando que a maior carência é emocional. O ambiente descrito, com “seringa usada, camisinha em todo lugar” e “armas dos outros muquiadas no teto”, revela um lar marcado pela criminalidade e abandono. No final, pensamentos de vingança e autodestruição, como “Mãe, devia te matar mas não sou igual você, / Invés de me sujar com seu sangue eu prefiro morrer...”, mostram o limite do desespero, mas também a recusa em repetir o ciclo de violência. A música denuncia, assim, uma realidade social em que crianças são privadas de cuidado e amor, tornando-se vítimas de um sistema que as marginaliza desde o início da vida.