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Letra

    Quando eu tinha seis anos
    Eu era amigo de uma Ana
    E um dia ela acertou uma pedra na minha boca
    Com meus lábios sangrando
    Eu fui falar com os professores
    E eu me senti mal porque ela parecia tão triste e sozinha
    Ela chorou o resto da aula inteira
    E eu me senti mal porque eu sabia que ela havia feito aquilo por brincadeira
    Foi como quando eu joguei uma manga através de uma janela
    E ela acertou a cabeça de uma moça que sentava perto dela
    Algum amigo me dedurou e eu fui chamado pra me explicar
    Ninguém estava do meu lado
    E Ana eu queria saber como você está

    Acordei as cinco da manhã pra ir até a junta militar
    E lá encontrei um dos meus melhores amigos indo se alistar
    Ele parecia nervoso e disse que se deus quisesse nenhum de nós ia pegar
    Eu não o via a muito tempo e disse pra ele esperar na porta pra gente conversar
    Mas o sargento disse que ele estava em outra fila e ia demorar
    Eu não pude esperar e fui embora

    E agora é natal
    Minha namorada viajou
    Eu tenho que tomar conta do cactus dela
    E eu sinto falta do seu amor
    É um sábado a noite e eu estou feliz
    Pedindo comida chinesa pelo telefone
    Minha namorada está no Rio de Janeiro e eu assisti filmes mudos o dia inteiro
    E no dia antes dela ir embora
    Nós tentamos ir numa boate mas estava lotada
    E eu passei mal de tanto rir da piada do meu melhor amigo
    Que era sobre eu não lembro mais o que
    Depois
    De beber um milkshake na praça da liberdade

    E chegando em casa nós fomos pro meu quarto
    Nós nos deitamos um do lado do outro e nos abraçamos e deixamos o tempo passar
    E desde aquele dia na junta militar
    Eu não tentei entrar em contato com aquele amigo
    Por algum tempo eu me convenci que iria entrar em contato com ele
    Mas já se passaram cinco meses
    Não parece mais tão importante assim

    Penso em todos os meus amigos de infância
    Alguns foram pra Alemanha, outros para as drogas, outros foram pra Espanha
    Todos temos vidas privilegiadas
    Nossos pais buscavam em frente a escola parados em fila em dupla em frente as escadas
    Como o menino que enfiou uma tesoura na mão da coordenadora
    Alguns dias depois ele me chamou pra dormir na sua casa e eu dei uma desculpa
    Muitos anos depois um amigo encontrou ele na rua
    E ele estava tão dopado de remédios que finalmente enterraram sua loucura
    Seus olhos eram vazios e perdidos e ele não sabia o que dizer
    É engraçado como é alienante o simples ato de viver


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