Princesinha (part. Beatriz Guimarães)

Durante um passei no parque vi
Uma criança correndo ali disposta ser feliz
A observei com atenção, me acendeu a emoção
Até fez brilhar meus olhos, jão

Tinha gosto de vê-la brincar, de vê-la zoar
Da hora de observar, de vê-la viver
A conheci ali mesmo naquele parque
Numa tarde de domingo bem longe da cidade

Ela não tinha grana, nem fama, nem nada
Se divertia mesmo assim, disso que eu gostava
Inocente de tudo o que acontece no mundo
Inteligente, esperteza dela vinha do fundo

Vivia como fungo, em qualquer canto
Vivia na rua para o meu espanto
Uma criança tão bela e cheia de encanto
Acorda sempre sozinha e vive aos prantos

Indignei, não aceitei e logo questionei
Por que deixaram só a criança que gostei?
Logo em seguida um silêncio no ar
Pensei comigo: Será que era pra eu questionar?

Me segurei para não interromper
Pra falar que ela não devia dizer
Então depois de dois minutos prolongados
Se abriu pra mim e contou o seu passado

Eu nasci assim, meio pobre, meio negra
Cabelo pixaim, bonitinha com certeza
Porém o meio em que nasci
Digamos que não seja apropriado pra mim

Minha mãe é viciada em crack e pó
E meu pai é um cara que faz bico e só
E atenção é o que nunca teve pra mim
Já pensei muitas vezes em suicídio, enfim

Às vezes reflito: Qual é minha utilidade?
Nem meus pais me querem, quem me ama de verdade?
Já me ofereceram muitas vezes drogas, revólveres
Fico pensando qual é a deles?

Sou criança sim, mas não sou burra
Vejo como estão meus pais
Não vou ser só mais uma
Desde quando estava no útero
Droga era o único alimento que tinha
A cada hora tinha mais medo do que ela ingeria

Foi um parto difícil na calçada da avenida
Uma carcaça humana dava luz a uma vida
Quem diria, eu era uma linda menina

Desde o primeiro segundo de vida
Não foi em um hospital
Nos primeiros dias fiquei meio mal
Mas superei e sobrevivi
Com o meu instinto animal

Mas tem um porém nasci com síndrome de down
Aí eu vi que não seria fácil pra mim
E percebi que a vida não é tão bela assim

Então eu venho aqui pro parque pra distrair
Pra simplesmente viver e me divertir
Uma infância normal, e viver feliz
Como eu sempre quis, só viver feliz

Depois deste relato sinceramente, rolaram lágrimas
Mano, que venha a inclusão racial e social que queremos
E nesse caso, psicológica, porque não há outra coisa
Além de nossa mente que nos separe dos nossos outros irmãos
Não é um cromossomo a mais ou a menos
Que irá falar que somos diferentes uns dos outros
Todo mundo tem seu valor e potencial
Parabéns princesinha, parabéns a todos
Os guerreiros com síndrome de down
Que enxerguemos mais o coração do que a aparência!