Pouca Vergonha (part. Kamisa 10)

Desejo online em “Pouca Vergonha (part. Kamisa 10)”

Em “Pouca Vergonha (part. Kamisa 10)”, “pouca vergonha” vira um apelido carinhoso para o sexo virtual que mantém um namoro à distância de pé. A repetição de “Qual casal...” normaliza vídeo-chamadas e troca de nudes, mas admite o risco de ter a “intimidade violada”. A narrativa é direta: dois amantes afastados matam a saudade em “uma transa virtual”, usando tela e imaginação para resgatar o toque — “pegar no teu cabelo e puxar”/“sentir teu corpo molhar”. A letra insiste que isso não é exceção, ao cravar “noventa porcento do corpo faz o mesmo que a gente”, argumento que reduz a culpa e expõe um hábito disseminado. Entre o tesão e o afeto, o vínculo se amarra na certeza de ser “o amor da nossa vida”, que legitima o pacto de cumplicidade.

No presente, relações se adaptam às barreiras físicas, e a parceria de Ferrugem com o duo Kamisa 10 dá um tom de conversa franca sobre como casais seguram a onda. “Pouca vergonha” guarda duplo sentido: na moral conservadora, seria “vergonha”; aqui, é ferramenta de cuidado e prazer para um “corpo carente”. Já “intimidade violada” aponta tanto para a exposição consentida em fotos e chamadas quanto para o risco de vazamento, lembrando que o prazer online traz fragilidades. Ao alternar o virtual — “uma transa virtual” — com imagens corpóreas como “ponto fatal” e “desejo carnal”, a canção mostra que a tela não substitui o toque, mas, por ora, acalma a falta. O resultado é um retrato direto de saudade, desejo e cumplicidade na era digital.