Cassandra

A solidão e o mito em “Cassandra” de Florence + The Machine

Em “Cassandra”, Florence + The Machine utiliza o mito grego de Cassandra para expressar sentimentos de frustração, isolamento e incompreensão. Florence Welch se identifica com a figura de Cassandra, amaldiçoada a prever o futuro sem ser acreditada, para abordar a sensação de não ser ouvida mesmo quando se tem algo importante a dizer. Isso fica claro em versos como “I used to see the future and now I see nothing / They cut out my eyes and sent me home packing” (“Eu costumava ver o futuro e agora não vejo nada / Eles arrancaram meus olhos e me mandaram embora”), que relacionam a experiência da artista à perda de propósito e criatividade, especialmente durante a pandemia. O trecho “crying like Cassandra” (“chorando como Cassandra”) reforça essa dor de ser desacreditada, enquanto “they cut out my tongue / And left me doing laundry to think in what I've done” (“eles cortaram minha língua / E me deixaram lavando roupa para pensar no que fiz”) sugere uma punição injusta e a substituição da expressão artística por tarefas banais.

A música também critica a perda de fé e de sentido no mundo contemporâneo. Em “All the gods have been domesticated / And heaven is now overrated / And the churches, they all closed their doors” (“Todos os deuses foram domesticados / E o paraíso agora está superestimado / E as igrejas, todas fecharam suas portas”), Florence aponta para o desencanto moderno e a desconexão espiritual. Imagens como “the garden's overgrown” (“o jardim está tomado pelo mato”) e “I run in the middle of the road” (“eu corro no meio da estrada”) transmitem abandono e desorientação. O refrão “can you see me? I cannot see you” (“você pode me ver? Eu não posso te ver”) destaca o isolamento, enquanto o verso final sugere um desejo de ruptura e transformação diante do colapso de antigas certezas, alinhando-se ao tom melancólico e gótico do álbum “Dance Fever”.