Wiseman

Humanidade e moralidade em "Wiseman" de Frank Ocean

Em "Wiseman", Frank Ocean desafia a ideia de dividir as pessoas entre bons e maus. Ele repete: “Bad man don't exist, no / No evil man exists / Good man don't exist, no / No righteous man exists” (“Homem mau não existe, não / Nenhum homem mau existe / Homem bom não existe, não / Nenhum homem justo existe”), questionando julgamentos morais simplistas e ressaltando que, no fim, “just flesh and blood exists” (“só carne e sangue existem”). Essa abordagem se conecta ao contexto da escravidão, tema central da música, mostrando como sistemas opressores desumanizam tanto vítimas quanto algozes, tornando qualquer julgamento superficial insuficiente.

A letra também aborda o impacto emocional da escravidão, especialmente nas relações familiares e na construção da masculinidade. O trecho “Sad man cannot cry in place where man can see / Never witnessed father weep / This old man thought it weak” (“Homem triste não pode chorar onde outros homens veem / Nunca vi meu pai chorar / Esse velho achava isso fraqueza”) revela como a repressão dos sentimentos é transmitida de geração em geração. Já a frase “I won't blunt my blade for cutting these chains / Rather, let my limbs be drugged through mud” (“Não vou cegar minha lâmina para cortar essas correntes / Prefiro que meus membros sejam arrastados pela lama”) expressa a resistência diante da opressão, evocando a luta dos escravizados por liberdade. O refrão “I bet your mother would be proud of you” (“Aposto que sua mãe teria orgulho de você”) reforça a dignidade e a importância dos laços familiares mesmo diante da brutalidade.

Por fim, Ocean utiliza imagens como “The beast will crawl this earth then fall in the dirt to feed the crows” (“A besta vai rastejar por esta terra e depois cair na terra para alimentar os corvos”) para mostrar que a violência e o poder são passageiros, e que todos compartilham o mesmo destino físico. Ao misturar referências à evolução humana e reflexões existenciais, a música questiona as categorias de força, fraqueza, bondade e maldade, mostrando que são construções frágeis diante da complexidade da experiência humana.