No Mundo da Lua / Abraço (part. Cynthia Luz, Qualy e Medulla)

Afeto e rua em “No Mundo da Lua / Abraço (part. Cynthia Luz, Qualy e Medulla)”

Em “No Mundo da Lua / Abraço (part. Cynthia Luz, Qualy e Medulla)”, Froid junta duas forças que parecem opostas: a dureza da rua e o abraço como sobrevivência emocional. “No Mundo da Lua” não é fuga vazia, mas um refúgio mental para encarar o “mata ou morre” sem abrir mão de união e cuidado coletivo. Os versos expõem o estigma sobre corpos negros e periféricos — “Camisa de força não cala minha boca... / onde preto e ladrão” — e tratam a rua como escola e cicatriz, em imagens como “a rua ensina” e “um olho no abismo, o outro no asfalto”. O refrão traz uma ética do cuidado — “Abraço apertado / aqui somos todos irmãos” — e a invocação “Jah que me guia” adiciona espiritualidade e resistência, em sintonia com a estética do Medulla e com o clima de união que a faixa defende. O contraste “Metade de mim quer voar, e a outra metade tá lá no mundo da Lua / debaixo da chuva, na rua” cristaliza o conflito entre sonho e sobrevivência.
No miolo, Froid escolhe “escrever verdades ao invés de poesia”, assumindo tom de crônica da quebrada. Ao dizer “anotando histórias nesse meu barril de anotação”, acena ao passado em Um Barril de Rap e à virada solo em 2017. O motivo “camisa de força” funciona como crítica ao silenciamento social e ecoa o nome artístico que referencia Freud — repressão versus fala. No fim, a música aposta na arte como ponte — “A música é ponte pro outro lado” — e no afeto coletivo, o abraço, como antídoto possível contra fome, medo e rótulos impostos à periferia.