Anjo Apaixonado

Amor que renuncia em “Anjo Apaixonado”, de G2 (Moçambique)

Em “Anjo Apaixonado”, G2 (Moçambique) cruza o sagrado com o cotidiano para afirmar que amar é escolher. O narrador é um enviado de Deus que se apaixona e decide abrir mão do status celestial: “Ai, Deus enviou-me pra te proteger / Mas ai, eu me apaixonei por ti” e, em seguida, “Desisti de ser anjo, asas pra o lixo”. As “asas” marcam poder e distância; descartá-las sinaliza permanência. O cuidado aparece em “nas minhas asas o teu ninho esteve sempre bem quentinho” e em “Como as flores que eu dei cheiro / este amor eu vou regar todos dias”, transformando o amor em presença diária, paciente e concreta — a cura acontece no tempo, não por milagre.

A letra encara feridas antigas com franqueza: “os teus homens nunca te deram valor” / “cada vez que partiram o teu coração”. Também reconhece o medo: “Sei que é difícil / sei que haverá tempestade”. A resposta é um pacto de permanência: “eu nunca vou abandonar o barco”. Metáforas de céu e luz viram consolo e direção: “vou te levar ao céu / fazer-te sentir as nuvens debaixo dos pés / o Sol mais próximo pra iluminar os teus caminhos”. Além do anjo literal, a renúncia das “asas” sugere abrir mão de privilégios e defesas para amar como humano, com limites e constância. Lançada em 2012 dentro do single “O Que Vês” (depois com videoclipe), a canção reforça nas repetições “te fazer sorrir e te amar” e “eu vim pra ficar” a promessa de abrigo, alegria e paz a quem teme ser ferido de novo.