Ripples

“Ripples”: juventude, espelho e travessia sem volta

A imagem das ondulações é suave, mas o recado é implacável: elas não voltam. Em Ripples, o espelho d’água sentencia, como em “it’s the last time you’ll look like today (é a última vez que você se verá como hoje)”, que a juventude se desfaz rápido. As “bluegirls” (garotas de azul) — contextualizadas como alunas de uniforme azul — personificam essa fase; por isso, “Angels never know it’s time to close the book (anjos nunca sabem quando é hora de fechar o livro)” sugere a dificuldade de encerrar o capítulo com graça. O ideal de beleza seduz, mas o espelho — a poça ciumenta — nega controle: “the bluegirls have all gone away (as garotas de azul já se foram todas)”. E “the face that launched a thousand ships (o rosto que lançou mil navios)”, referência a Helena de Troia, indica que até a beleza mítica cede ao tempo.

“Sail away, away / Ripples never come back / Gone to the other side (Navegue para longe, para longe / Ondulações nunca voltam / Foram para o outro lado)” molda a canção como travessia rumo a um ponto sem volta — seja a vida adulta, seja a mortalidade. Água e espelho viram metáforas da memória: dá para “look into the pool (olhar para o espelho d’água)” e “dive to the bottom (mergulhar até o fundo)”, mas as marcas somem como ondas. A emoção é serena e melancólica. Musicalmente, piano e guitarras de 12 cordas, com uma passagem que evoca Firth of Fifth, criam fluxo que espelha o ir e vir da água. Nas turnês de 2007, o Genesis tocou Ripples em tons mais baixos para acomodar a voz de Phil Collins — a performance incorporando o tema da letra.