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Entra Ano, Sai Ano (Mote de Dez) (part. Geraldo Amâncio)

Ivanildo Vilanova

Letra

    Sertanejo não tem mais por quem chame
    Não terá como nunca teve antes
    Porque todos os seus representantes
    São barões e filhinhos de madame

    Passeando em Brasília e em Miami
    Ipanema, Gramado e Guarujá
    Muito longe do voo do carcará
    Tão distantes da sombra do muquém

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    Todo ano recursos são criados
    Pra salvar o Nordeste brasileiro
    Mas ninguém vê a cor desse dinheiro
    Muito menos os pobres flagelados

    Os bilhões e bilhões são desviados
    Com farinha, feijão, arroz e chá
    Fica tudo nas mãos de marajá
    Prefeitura, galpão e armazém

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    Quando a seca esturrica o meu sertão
    O problema se torna mais sinistro
    O governo despacha algum ministro
    Para vir conhecer a região

    Ele vê a miséria de avião
    Faz promessa, discurso e blá-blá-blá
    Garantindo recursos que não há
    Prometendo dinheiro que não tem

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    Essa tal emergência é uma piada
    Que humilha e ofende o camponês
    Condenado a lutar de seis a seis
    Transformado em cassaco de estrada

    Obrigado a trocar a sua enxada
    Por um carro de mão e uma pá
    E o salário no fim do mês não dá
    Pra comer rapadura com xerém

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    Assim vive o sertão com sua gente
    Sofredora, oprimida e infeliz
    Se mudando para o Sul desse país
    E desejando o Nordeste independente

    Enganando o jejum com aguardente
    Mastigando um pedaço de preá
    Combatendo os espinhos de juá
    E embalado na busca do revém

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    É preciso que alguém se manifeste
    E apareça um sujeito de coragem
    Pra poder desmanchar a engrenagem
    Que emperra o progresso do Nordeste

    Ou então o sertão cabra da peste
    Qualquer dia não mais aguentará
    Expulsando os políticos ruins de lá
    Que votar em corruptos não convém

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    Afinal sertanejo nordestino
    Para o Brasil é somente mão-de-obra
    Coisa ruim para ele tem de sobra
    Não consegue mudar o seu destino

    Aguardando um milagre do Divino
    Ou um outro Getúlio ou Jota-cá
    Apegado a promessa e patuá
    E invocando os espíritos do além

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    No sertão quando é tempo de eleição
    Os políticos se mandam de Brasília
    Deixam lá as mansões e a família
    Para vir pedir voto no sertão

    Inventando pra tudo solução
    Sustentando que nada faltará
    Quando passa eleição somem de lá
    Nunca mais dão notícia a seu ninguém

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    É difícil um ministro, senador
    Calcular quanto vale um sertanejo
    Para alguns é apenas um despejo
    Elemento volúvel sem valor

    No sertão nunca chega um salvador
    Quando chega é algum Ali Babá
    E os quarenta ladrões de Bagdá
    Se transformam em sessenta, oitenta e cem

    Entra ano, sai ano e nada vem
    O sertão continua ao Deus-dará

    Composição: Geraldo Amâncio / Ivanildo Vilanova. Essa informação está errada? Nos avise.

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