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Jogando Truco

Jayme Caetano Braun

LetraSignificado

    O TRUCO é um jogo tão guasca
    Como a Tava e as Chilenas.
    Velhas cartas Sarrancenas
    Quatro a quatro, do Ás ao Rei
    Trucando assim me criei
    De Mano, Quatro, Oito ou Seis
    E até jogando de Três
    Muito Carancho tosei.

    Baralho e mando que cortem
    Dando por baixo, uma a uma,
    Cuidando se alguém se apruma
    Pra ver senha de jeito.
    É preciso muito peito
    Pra não sair do recau
    Olho esquerdo é o Ás de Pau
    Ás de espada - olho direito.

    Hay que ter muita malícia
    Que TRUCO é jogo do diabo.
    A senha do Sete Brabo
    Que vem primeiro, é o de Espada,
    Carta muito cobiçada
    Tem uma importância louca:
    Canto direito da boca
    Mais ou menos repuchada.

    Sete de Ouro, canto esquerdo,
    Carta de muita valia.
    Um pobre Três se arrepia
    Quando o Belo cai no cocho.
    Senha pra Dois é um muxoxo
    Que desnorteia o mais sábio.
    Pra Três, se morde o lábio
    Quando o jogo corre flocho.

    Quem joga bem, faz senha
    Até de Güeime e de Rei.
    Com Cavalo já ganhei
    E a Sota as vezes escora.
    No jogo hay sorte e caipora,
    Conforme a volta nos topa.
    Dei QUERO em cinco de copa
    Sem botar partida fora.

    Envite é o jogo dos pontos
    Digo ENVIDO ou REAL ENVIDO
    - A Falta seu atrevido!
    - QUERO mesmo e te esborracho!
    Trinta e dois é ponto macho,
    Trinta também é do diabo,
    Mas Trinta e Três é o mais brabo,
    Levanta os outros por baixo.

    São linda de ouvir-se as falas
    E os refrões do jogador.
    Três cartas de um naipe é FLOR
    Que a gente acusa cantando:
    "Iba a mis pagos rumbeando
    Derecho a mi podre Rancho
    Quando cruzome un caranho
    Mi FLOR de china llevando!"

    E assim meio entreverado
    Num dialeto de Fronteira
    Se canta FLOR de Abobreira,
    De Espada, de Ouro e de Pau:
    "Estaba un capincho anidau
    Haciéndo un cigarro de holla
    Diciendo a la panza floja
    Yo tengo FLOR mi cuñau!"

    " Su nombre, no era Floduarda,
    Ni tampouco Florentina,
    Su nombre era Florisbela
    E ahijuna! Que FLOR de china!"
    E assim, nessa relancina,
    Sem dar prejuízo nem lucro,
    O TRUCO é o jogo mais chucro
    Da carteação campesina.

    Com FLOR se pucha três tentos
    Seis pontos - Da CONTRA FLOR
    TRUCO é dois, seja onde for
    RETRUCO em três tentos fica.
    VALE QUATRO o nome explica
    Não precisa ensinamentos.
    Perde também quatro tentos
    Quando alguém com FLOR se achica.

    O ENVIDO começa em dois
    Quando o parceiro não pula
    Mas tem gente que nem mula
    Que vai até a FALTA ENVIDO.
    Geralmente o mais engrido
    Quando pegado em mentira
    Ri amarelo enquanto atira:
    "Vou le dar seu atrevido!"

    É bom que saiba quem joga:
    Jogandor nunca é sincero
    Pois "Queria" não é QUERO
    Nem "Vou le dar" tem valor.
    E aquele que fala FLOR
    Se não tiver, perde ponto,
    Isso acontece com tonto
    Quando se mete a cantor.

    De quatro, de Seis e de Oito
    Há um segredo entre os primeiros:
    Não brigar c´os companheiros
    E o Pé mandar na jogada.
    É a ciência mais acertada
    De quem maneja uma vaza:
    A primeira, sempre em casa,
    O resto se faz na estrada.

    E dizer, quando se é Pé:
    Companheiro! Não se afogue,
    Venha e nem negra me jogue
    Seu parceiro é taura forte.
    Com cueradas não se importe
    Se alguém lhe pulsear a vaza,
    Pois formiga cria asa
    Quando está querendo a morte.

    Se alguém le contrapontear
    Do outro lado da carona:
    - Rinho a ponto essa rabona
    - Pois não fio nem empresto,
    Erga sempre o seu protesto,
    Não fuja de pulseador,
    Nunca se achique com FLOR,
    Meta: - CONTRA FLOR O RESTO!

    Jogador é que nem china
    Não se contenta com QUERO
    E aquele Sete que espero
    Pra um Trinta e Três bem fanhoso
    Quase sempre é mentiroso
    Como promessa de amor
    E só louco truca FLOR
    Quando o naipe é perigoso.

    E com Trinta e Três de espada
    Nunca jogue o seis primeiro.
    FLOR pequena, meu parceiro,
    Sempre se canta em voz alta,
    Pois se a fraqueza ressalta
    Não faltará quem le minta.
    Com ponto abaixo de Trinta
    Não bote nem queira falta.

    Nunca tive pretensões
    De mestre nem professor
    Mas chambão cantando FLOR
    Jamais me rouba o sossego,
    Pois tirei, quando borrego,
    Meu diploma de carpeta
    Debaixo de uma carreta
    Sobre um carnal de pelego.

    E aprendi que nesse jogo
    Se mente grosso até a morte.
    A magra é a dona da sorte
    E tem tudo a seu favor,

    Mas comigo, não senhor,
    Pouco me importa o que faça
    Pode roubar-me a carcaça
    Mas morro cantando FLOR!


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